NOV 08, 2022
Felipe S. Fernandes - Jornal de Negócios. Confira matéria original aqui.
Houve alterações demográficas ao longo do tempo, “as nossas estruturas organizacionais e mentais mantiveram-se quase congeladas. Continuamos a pensar da mesma forma, que é anterior ao processo de envelhecimento”.
Valdemar Duarte, Gonçalo Saraiva Matias, Maria João Valente Rosa, Paula Guimarães, João Maia Abreu e Pedro Esperto debateram o envelhecimento.
"Há um conceito que começa a fazer mais sentido que é o de longevidade em vez de envelhecimento. "Com o envelhecimento está-se a olhar trás, para o número de anos que já se viveram. Com a longevidade, a ideia é deixarmos de estar tão agarrados ao passado e pensarmos no que nos falta viver. O conceito de longevidade significa uma alteração de perspetiva porque passamos a pensar no futuro, no que se tem de fazer, no futuro de vida que ainda temos pela frente", referiu Maria João Valente Rosa, professora auxiliar na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da UNL, no pequeno-almoço que se realizou no Pestana Palace Hotel, no âmbito da iniciativa "Seguros em Portugal", para debater o envelhecimento. O evento contou com a participação de Maria João Valente Rosa, professora auxiliar na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da UNL, Valdemar Duarte, diretor-geral da Ageas Pensões, Gonçalo Saraiva Matias, presidente do Conselho de Administração e da Comissão Executiva da Fundação Francisco Manuel dos Santos, Pedro Esperto, responsável pela oferta sénior do Grupo Ageas Portugal e Paula Guimarães, coordenadora do Projeto Autarquias que Cuidam do IPAV. Maria João Valente Rosa começou por elencar as razões que estão na base de alguns problemas que se estão a sentir na sociedade portuguesa. "No envelhecimento, Portugal não está sozinho, mas acompanhado pela Europa e até pelo mundo". A professora auxiliar na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da UNL adianta que as causas do envelhecimento têm a ver com conquistas sociais importantes que se fizeram essencialmente sobre a morte, mas não só. "No passado, Portugal era um dos países menos envelhecidos na Europa pelas piores razões: morríamos cedo, éramos pouco desenvolvidos e qualificados, com níveis de fecundidade elevados tínhamos muitas crianças que eram uma fonte de mão de obra, portanto, estávamos com níveis de envelhecimento bastante baixos". Por outro lado o envelhecimento é visto de uma forma negativa mas quando se olha para a longevidade depois da reforma, hoje vive-se mais de 20 anos depois dos 65 anos. "Ganharam-se anos de vida, mas essa não foi igualmente repartida e não vivemos com a mesma qualidade de vida nas várias fases, mas passamos a ter mais tempo para ser velhos". Além disso não se trata de uma história final porque interessa a todos, desde as crianças aos jovens, aos adultos e aos mais velhos, pois, como sublinhou, "50% das crianças que nascem hoje em Portugal têm hipótese de ultrapassar a barreira dos 100 anos". Governar para as gerações Com o desenvolvimento económico, social, Portugal começou a ter um perfil de população semelhante aos países europeus. Mas se houve alterações demográficas ao longo do tempo "as nossas estruturas organizacionais e mentais mantiveram-se quase congeladas. Continuamos a pensar da mesma forma, que é anterior ao processo de envelhecimento". Na opinião de Maria João Valente Rosa, está na "altura de mudar a forma de estar em sociedade, o que se aplica tanto à Segurança Social como à forma de viver e de estar, porque as exigências são outras. A ideia é mudar em termos sociais, culturais, organizacionais, e para isso é preciso pensar também como vai ser no futuro". Mas estas mudanças implicam riscos que os políticos e as suas políticas públicas não querem assumir. Como diz Maria João Valente Rosa, "não se devia governar para as próximas eleições mas para as próximas gerações". Os desafios são muito mais transversais do que o envelhecimento, defendeu Gonçalo Saraiva Matias, presidente do Conselho de Administração e da Comissão Executiva da Fundação Francisco Manuel dos Santos. Referiu-se ao grande desafio da estrutura demográfica portuguesa. "Portugal perdeu população entre 2010 e 2019 consistentemente pelas duas possíveis. Morria mais gente do que nascia e saia mais gente do que entrava. Isto não é sustentável e possível para ter um país a crescer que está a envelhecer e a perder população numa faixa etária ativa. Só se conseguiu inverter ligeiramente a tendência a partir de 2019 pela via da imigração", afirmou Gonçalo Saraiva Matias. Acrescentou que "o saldo natural tem vindo sempre a piorar, nunca conseguiremos corrigir o problema da natalidade pelo saldo natural. O único instrumento que temos e os dados mostram isso, é a imigração. As políticas de natalidade demoram gerações a produzir efeitos, as políticas de imigração podem ter um efeito imediato, porque estão em idade ativa e fértil e portanto também podem contribuir para a própria natalidade", concluiu Gonçalo Saraiva Martins.
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