AGO 04, 2021
Marina Filippe - Exame. Confira matéria original aqui.
Após ser dispensada nos Jogos do Pequim, Carol Gattaz, do vôlei feminino brasileiro, estreia nos Jogos Olímpicos aos 40 anos e indica a importância da resiliência e diversidade geracional no trabalho

Carol Gattaz faz estreia em Olimpíadas (Instagram/Carol Gattaz/Reprodução)
Nesta quarta-feira, 4, o time de vôlei feminino brasileiro venceu a Rússia nas Olimpíadas graças aos bloqueios de uma protagonista de carreira incomum: a central Carol Gattaz. Ela contraria as estatísticas de atletas que se aposentam jovens e faz sua estreia nos Jogos Olímpicos aos 40 anos de idade. Sua atuação nesta terça-feira foi tão decisiva que as redes sociais foram inundadas com memes como "Vocês sabiam que a Muralha da China vai ser renomeada para Muralha Carol Gattaz?".
Ela, que em 2008, havia sido dispensada dos jogos de Pequim, dá a volta por cima mesmo depois do momento que descreveu como o mais doloroso da carreira. “Me perguntava o que tinha faltado e o motivo pelo qual aquilo estava acontecendo comigo”, disse em entrevista para a Globo. Seu exemplo lança luz sobre a importância da resiliência para profissionais mais maduros, fundamentais para times de vôlei e para empresas de qualquer tamanho e setor de atuação.
Gattaz continuou treinando e agora mostra como idade não é problema para alcançar o sucesso profissional. Ela, o velejador brasileiro Robert Scheidt, que está na sua sétima Olimpíadas aos 48 anos, e outros atletas dão exemplos que vão além do esporte.
“Uma pessoa disciplinada e com a obsessão de melhorar, faz com que ela siga planejando em como realizar os seus objetivos em qualquer idade. A lição de produtividade está em acreditar no seu potencial”, diz Sofia Esteves, fundadora da Cia de Talentos.
A longevidade e produtividade pauta o mundo do trabalho e a sociedade em geral. Até 2050, 30% da população brasileira terá mais de 60 anos. O país será o sexto mais velho do mundo, segundo dados do IBGE compilados na pesquisa "Longevidade" organizada pela Fundação Dom Cabral.
Nas contas do Ipea, órgão de pesquisas ligado ao governo federal, 57% da população em idade economicamente ativa no Brasil terá mais de 45 anos daqui três décadas. Assim, Gattaz exemplifica uma tendência que deve ser absorvida pelo mercado.
“Ela transmite a sua resiliência, o esforço e o foco, características valiosas no mundo corporativo. É justamente a integração geracional que vai proporcionar soluções mais inovadoras, lucrativas e inclusivas”, diz Mauro Wainstock, sócio da consultoria HUB 40+.
O executivo comenta ainda a importância da maturidade também para a liderança. “Seu talento foi lembrado, mas depois preterido, em várias oportunidades. Ela não desanimou. Transformou a decepção em incentivo, a simples vontade em forte determinação. Passou a ser capitã de seu time e a utilizar o equilíbrio, a maturidade e a experiência como diferenciais. A liderança e o respeito foram conquistados de forma natural; a dedicação e a capacidade de se superar recompensadas merecidamente”, diz.
Mercado de trabalho
O envelhecimento da população brasileira traz desafios para a diversidade nas empresas. Pela primeira vez há quatro gerações no mesmo ambiente de trabalho. No Brasil, a população com 50 anos ou mais passou de 54 milhões de pessoas em 2020, o que representa cerca de 25% do total.
Mas grande parte das companhias ainda não olham especificamente para a contratação e inclusão de pessoas mais velhas. Em uma pesquisa realizada pela consultoria Maturi, 64% dos entrevistados citam o preconceito etário no mercado de trabalho entre os maiores desafios do momento, seguido por questões financeiras.
"Gattaz mostra como ter pessoas experientes no time faz toda diferença e incentiva a quebra de preconceitos. Temos visto empresas relatarem a importância dos mais experientes no momento de pandemia, pois a postura corporativa dos mais velhos junto a mais flexível dos mais jovens são complementares. Uma tendência importante no esporte e fora dele", diz Mórris Litvak, fundador da Maturi.
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