ABR 04, 2022
Bethânia Nunes - Metrópoles. Confira matéria original aqui.
Pesquisa realizada com idosos que aprenderam a tocar um novo instrumento comprovou benefícios da prática
Pessoas que aprendem a tocar piano depois dos 60 anos correm menos risco de desenvolver demência, segundo mostra um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Genebra, na Suíça, e da Hannover Medical School, na Alemanha.
Estudos anteriores já tinham trazido evidências de que tocar um instrumento pode oferecer benefícios para a saúde cerebral. O novo estudo, publicado na revista Frontiers in Aging Neuroscience, mostra que mesmo pessoas que nunca tocaram um instrumento antes podem colher vantagens caso se dediquem à prática.
O Parkinson, o Alzheimer e a demência são doenças neurodegenerativas que afetam principalmente a população idosa. As condições são progressivas e, com o passar do tempo, o paciente torna-se mais dependente do cuidado de terceiros. É comum que, no estágio inicial, os sintomas sejam confundidos com o processo natural do envelhecimento. No entanto, familiares e pessoas próximas devem ficar atentas aos sinais. Também é importante buscar ajuda de médicos, pois quanto mais precoce for o diagnóstico, maiores serão as chances de controlar o caso e retardar o avanço das doenças, bem como aumentar a qualidade de vida dos pacientes. O Parkinson provoca a morte de neurônios que produzem dopamina e desempenham papel importante no sistema locomotor. Os homens são os mais acometidos. Os familiares do paciente devem ficar atentos aos primeiros sinais de lentidão, rigidez muscular e tremores frequentes, que são mais característicos desta condição. O Alzheimer, por sua vez, afeta mais a população feminina. Ele provoca a degeneração e a morte de neurônios, o que resulta na alteração progressiva das funções cerebrais. As consequências mais recorrentes são o comprometimento da memória, do comportamento, do pensamento e da capacidade de aprendizagem. A demência é progressiva e os sintomas iniciais bastante conhecidos: perda de memória e confusão são os mais comuns. A condição atinge até 25% das pessoas com mais de 85 anos no Brasil. Problemas na fala e dificuldade em tomar decisões também estão entre os sinais. Porém, há outros indícios sutis que podem alertar para o desenvolvimento de alguns tipos de doenças degenerativas. Problemas de visão: um estudo feito no Reino Unido pela UK Biobank mostra que pessoas com degeneração macular relacionada à idade têm 25% mais chance de ter demência. Perda auditiva: pode estar ligada a mudanças celulares no cérebro. Mas a perda de visão e audição pode levar o idoso ao isolamento social, que é conhecido há anos como um fator de risco para Alzheimer e outras formas de demência. Mudanças de humor: pessoas com quadros iniciais de demência param de achar piadas engraçadas ou não entendem situações que costumavam achar divertidas e podem ter dificuldade de entender sarcasmo. Problemas na gengiva: pesquisas apontam que a saúde bucal está relacionada a problemas mentais e pode estar ligada também à diabetes tipo 2, pressão alta, colesterol alto, obesidade e alcoolismo — todos também são fatores de risco para a demência. Isolamento social: o sintoma pode aumentar o risco de doenças neurodegenerativas. A falta de paciência com amigos e familiares e a preferência por ficar sozinho podem ser sinais de problemas químicos no cérebro ou falta de vitaminas. Outros sinais que podem indicar doenças neurodegenerativas, são: desinteresse pelas atividades habituais, dificuldade em executar tarefas do dia-a-dia, repetir conversas ou tarefas, Desorientação em locais conhecidos e dificuldade de memorização. A pesquisa contou com a participação de 121 idosos saudáveis, com idades entre 60 e 70 anos, que nunca haviam tocado um instrumento. A metade deles teve aulas semanais de piano, com duração de uma hora, por seis meses.
Os voluntários foram instruídos a praticar o instrumento em casa por pelo menos meia hora todos os dias. A outra metade assistiu a apresentações semanais de diferentes tipos de gêneros musicais, mas não pode tocar, cantar ou bater palmas nesse período.
Os pesquisadores compararam as imagens dos cérebro dos participantes feitas antes e depois do experimento para medir mudanças em substância branca, que naturalmente diminui com a idade e desempenha um papel importante na cognição e na memória.
Mais sobre o assunto
Os praticantes das aulas de piano perderam pouco ou nada dessa substância branca, o que sugere que não houve declínio na função cerebral. O outro grupo, no entanto, teve uma redução significativa da densidade da substância branca, mostrando maior risco de desenvolver demência e outros problemas de memória.
“Essas descobertas não apenas fornecem mais evidências para o envolvimento do fórnix (parte do cérebro onde a substância está concentrada) na codificação da memória episódica, mas também mostram que aprender a tocar piano em uma idade avançada pode estabilizar a microestrutura da substância branca do fórnix”, escreveram os autores do estudo.
Os benefícios, de acordo com os pesquisadores, parecem estar relacionados à intensidade do treinamento do piano. Ou seja, para obter os resultados, os alunos precisam se comprometer com a prática.
コメント