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Armando de Medeiros: "Compreender o envelhecimento – da Fisiologia à terapêutica"

OUT 13, 2022

Jornal Médico. Confira matéria original aqui.



Leia o artigo de opinião da autoria de Armando de Medeiros, médico aposentado de Clínica Geral, autor do livro “Saber Envelhecer - Uma viagem pela saúde dos seniores”, acerca do envelhecimento ativo.

Ao longo do processo de envelhecimento surgem alterações cognitivas e da memória que levam, por exemplo, a que os idosos tenham mais dificuldade em dividir a sua atenção por várias tarefas ou a recordar nomes de pessoas, de livros ou de filmes. Como sabemos, a velocidade da deterioração física e mental difere muito de pessoa para pessoa, mas todos vão sofrendo um processo de adaptação que lhes permitem ter uma vida de relação relativamente normal até uma determinada altura da sua existência, sem que os médicos tenham a possibilidade de avaliar, de uma forma objectiva, a extensão do seu declínio funcional.

A idade é o principal fator de risco para a grande maioria das doenças crónicas, nomeadamente, a osteoartrose, as doenças cardiovasculares e o cancro, mas, também, para aparecimento de demências, como a doença de Alzheimer.

É geralmente aceite que existem três grupos de modificações fisiológicas associadas ao envelhecimento: alterações nos mecanismos de homeostase celular (temperatura corporal, volume sanguíneo e dos fluidos extracelulares); diminuição da massa dos órgãos; declínio e perda da reserva funcional do corpo [1].

Os mecanismos celulares e moleculares que determinam estas alterações fisiológicas, parecem incluir nove hallmarks (marcadores ou biomarcadores) do envelhecimento: instabilidade genómica, encurtamento dos telómeros, alterações epigenéticas, perda da homeostase proteica, desregulação dos sensores de nutrientes, disfunção mitocondrial, senescência celular, exaustão das células estaminais e alterações na comunicação intercelular [2].

O processo de envelhecimento é largamente determinado pela herança genética, mas parecem ser os fatores ambientais (como a exposição a micro-organismos, a poluentes e à radiação ionizante) e os estilos de vida (que incluem a dieta, o exercício físico e o fumo do tabaco) a terem um papel mais determinante na longevidade.

O conhecimento dos mecanismos fisiológicos e fisiopatológicos do envelhecimento é fundamental para se encontrarem novos alvos terapêuticos que balizem as áreas de I&D a serem financiadas. Os geroprotetores constituem uma nova tendência da biomedicina, que engloba um grupo de fármacos cuja ação se direciona contra os mecanismos do envelhecimento. No caso da DPOC, os geroprotetores atuam reduzindo o stress oxidativo e a senescência celular e, consequentemente, a inflamação crónica [3].

Mas será que estas alterações decorrentes do envelhecimento são fisiológicas ou fisiopatológicas? Por outras palavras, será a idade uma doença?

Desde há muitos anos que esta questão se coloca e ainda não dispomos de uma resposta que seja suficientemente credível para pôr um ponto final na questão. Este aspecto não é tão irrelevante como possa parecer à primeira vista porque, no caso da idade ser considerada uma doença, abre-se o caminho para um ainda maior investimento da indústria farmacêutica e tecnológica no desenvolvimento de tratamentos para o envelhecimento. Esta alteração de paradigma pode ter o efeito perigoso de criar condições para que alguns centros de investigação e desenvolvimento comecem a percorrer caminhos junto à fronteira que separa a ética da irresponsabilidade. Ao mesmo tempo, esta mudança de padrão pode ter a vantagem de enfraquecer o mercado paralelo (de legalidade duvidosa) que se dedica aos tratamentos estéticos e, consequentemente, a proteger os idosos de serem enganados. Termino este texto apresentando dois pequenos conselhos relativos à prática clínica:

1. Não devemos impor dietas demasiado restritivas a idosos cuja esperança de vida se mede em anos e não em décadas (a comida pode ser o único prazer que têm na vida); 2. Devemos ter o bom senso de só iniciar a prescrição de fármacos recentemente introduzidos no mercado quando já dispusermos do lastro da evidência científica. Como sabemos, os ensaios clínicos não são muito abundantes nos grupos etários mais avançados, e, como diz o povo: cautela e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém. Referências: [1] Dodds C. Physiology of ageing. Anaesth Intensive Care Med 2006; 7: 456–458): 1. [2] Lopez-Otin C, Blasco MA, Partridge L, et al. The hallmarks of aging. Cell 2013; 153: 1194–1217. [3] Ito K, Colley T, Mercado N. Geroprotectors as a novel therapeutic strategy for COPD, an accelerating aging disease. Int J Chron Obstruct Pulmon Dis 2012; 7: 641–652.


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