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Brasil x Nova Economia: por que empreendedores enfrentam mais desafios para "decolar" no país

Atualizado: 13 de jun. de 2021

MAI 28, 2021

Diego Barreto - Época. Confira matéria original aqui.


O ciclo virtuoso de competição, inovação e crescimento da produtividade que existe em países como os EUA e a China não é visto em solo brasileiro


(Foto: Getty Images)


Não é novidade que empreender, no Brasil, não é tarefa fácil. Muito já foi dito sobre o tema, mas nem sempre a questão é discutida com a complexidade que merece. Quando pensamos em startups e unicórnios, é inegável que o Brasil está apenas “engatinhando” perante países como a China e os Estados Unidos. Mas quais são os principais obstáculos para que o Brasil “entre de vez” na Nova Economia?


As dificuldades estão ligadas às diferenças estruturais entre a economia brasileira e as economias dos países que mais produzem unicórnios – no caso, China e Estados Unidos. Sem dúvida, a principal diferença, que atrapalha – e muito – a vida dos empreendedores brasileiros é o trinômio inovação, produtividade e competitividade. Ou, no Brasil, a falta dele.


Em países em que o empreendedorismo é amplamente disseminado – devido às condições econômicas, históricas e culturais –, a competição é imensa, e exige que haja criação, reinvenção e construção de vantagem competitiva constantemente. É o que o economista e cientista político austríaco Joseph Schumpeter chamava de "tempestade da destruição criativa", referindo-se ao fato de a competição estimular a inovação, fazendo com que se rompa com a ordem estabelecida, criando vencedores – e também perdedores. No longo prazo, os escombros (idealmente) possibilitam uma sociedade mais empática e as bases da infraestrutura para mais inovação e prosperidade – mas isso só acontece se a "tempestade" soprar.


O mesmo não acontece no Brasil, onde a competição é baixa. O relatório Competitividade Brasil 2019-2020, elaborado pela CNI (Confederação Nacional da Indústria), posicionou o Brasil em penúltimo lugar na comparação com outras 17 economias com características similares à brasileira – à frente apenas da Argentina. A pesquisa apontou que o ambiente de negócios no país até melhorou nos últimos dez anos, mas não o suficiente. A China ficou em 5º lugar no ranking.


Outro ponto levantado é que o custo do capital no Brasil também é muito superior aos dos demais países avaliados no estudo. Segundo dados da pesquisa Doing Business 2020 do Banco Mundial, em 2019, o montante de impostos e contribuições pagos pelas empresas brasileiras representou 65% do seu lucro.


Essa falta de competitividade se explica justamente pelo fato de, no Brasil, a economia ainda ser baseada em tarifas, barreiras alfandegárias, burocracia e falta de crédito. Com isso, são poucos os que conseguem empreender, e desses poucos, nem todos obtêm sucesso, e muitos que obtêm criam negócios pequenos.


As empresas que se mantêm enfrentam pouca competição, o que diminui o incentivo para que “pensem fora da caixa”, inovem e criem produtos e serviços que ninguém imaginou antes. Ou seja, o ciclo virtuoso de competição, inovação e crescimento da produtividade que existe em países como os EUA e a China não é visto em solo brasileiro.


O principal reflexo desse atraso é no desenvolvimento da tecnologia. Tais países estão muito mais aptos a terem progresso tecnológico permanente do que o Brasil. E é por isso, também, que temos déficit de mão-de-obra na área de tecnologia, poucas patentes, poucas startups e, como consequência, poucos unicórnios. Logo, baixa mobilidade social.


Dificuldade em atrair talentos e falta de dinamismo

Além da ausência de competitividade, outra fraqueza brasileira, que representa obstáculo para os empreendedores e o estabelecimento da Nova Economia, é a falta de atrativos para os chamados talentos globais. Esses grandes nomes são naturalmente atraídos para os mercados mais sólidos, como os EUA e a China, porque lá está a inovação, a tecnologia de ponta, é lá que as mudanças acontecem.


Sendo assim, muito dificilmente um grande talento global virá trabalhar no Brasil, já que, com todas as deficiências e atrasos, o país não tem condições de competir para "importar" tais profissionais. Existem os talentos brasileiros que têm um nível global, mas não conseguimos trazer os de fora. Isso, sem dúvida, prejudica o cenário de empreendedorismo brasileiro, pois são nomes que certamente agregariam muito às startups locais com sua expertise em empresas estrangeiras.


A falta de dinamismo na economia é outro problema sério no Brasil. Nos EUA, por exemplo, se formos consultar o ranking das maiores empresas americanas na Bolsa de Valores, veremos que a grande maioria são grupos de tecnologia. Em geral, essas empresas não foram fundadas por uma família tradicional ou pelo Estado, e sim por um empreendedor.


Já no Brasil, a grande maioria das organizações de grande porte são ligadas a famílias tradicionais ou ao Estado. Ou seja, a iniciativa privada no Brasil é menos dinâmica por ser mais concentrada, o que acaba não permitindo um avanço significativo do nosso mercado. Dessa forma, passa a existir uma barreira maior para empreender, já que existem poucas empresas de grande porte, e a maioria delas tem origem familiar e perfil tradicional, e são elas que definem os rumos da economia do país.


Nova Economia é o caminho

A essa altura, você deve estar se perguntando: em meio a tantas dificuldades, será que é possível o Brasil reverter esse quadro? A resposta é sim, mas certamente não será da noite para o dia. Mas é necessário, e urgente, continuarmos dando passos.


A primeira mudança necessária seria adotar medidas visando ampliar a competitividade da economia brasileira. A Nova Economia, por si só, muda todo o cenário, e, sem dúvida, é o "divisor de águas" que o Brasil precisa para assumir seu novo papel no mundo. Esse modelo econômico defende a competitividade sem apadrinhamento e a eficiência gerencial e tecnológica, que devem ser metas obrigatórias para as empresas que quiserem sobreviver nos próximos anos. Ou seja, quanto mais as empresas brasileiras aderirem à Nova Economia e aos seus preceitos, mais competitivas serão, e mais preparadas para o cenário global de negócios estará.


Os investimentos em tecnologia proprietária também são primordiais, e, embora não irão, de forma alguma, sanar as décadas de atraso do Brasil em relação aos outros países, certamente ajudarão a diminuir o gap e colocar o país na rota correta.


Outro passo importante é tornar nossa economia menos engessada e mais dinâmica. Muitas empresas da Velha Economia vêm tentando se adaptar e dar esse salto em direção à Nova Economia – ou seja, deixando de lado a atuação alicerçada em barreiras de entrada que impedem a entrada de outros competidores e adotando o conceito da disrupção digital, que leva à transformação do modelo de negócio a partir da convergência de múltiplas tecnologias. No momento em que a transformação digital acontece, a empresa acaba, naturalmente, alterando seu modelo de gestão, sua cultura empresarial e, por fim, sua estratégia.


Esses três fatores juntos – maior competitividade, inovação a partir de investimentos em tecnologia proprietária e expansão da produtividade – são a "chave" para o Brasil finalmente passar a trilhar o caminho do crescimento sustentado e inclusivo. Isso dará mais oportunidade ao surgimento de novas startups e, quem sabe, um maior número dos tão desejados unicórnios, o que permitirá que mais brasileiros tenham acesso à tão necessária mobilidade social.

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