AGO 21, 2022
Bruno Tomé - Pioneiro Política . Confira matéria original aqui.
Igreja Matriz São Luiz Gonzaga, localizada no centro de Veranópolis
Marcelo Casagrande / Agencia RBS
Entidades de municípios do oeste da Serra, próximos à rota, também elencam o que é necessário para a região
Com o objetivo de apresentar as demandas de municípios da Serra gaúcha, fundamentais para o crescimento e desenvolvimento da região, o Pioneiro chega à terceira reportagem da série A Serra Fala. Desta vez, foram ouvidas lideranças de cidades que compõe a rota turística Termas e Longevidade e também do oeste da Serra. Antes, a série pontuou as demandas da Região das Hortênsias e dos Campos de Cima da Serra. Até as eleições, a série abordará ainda, semanalmente, a região dos Vinhedos e, especificamente, Caxias do Sul.
Com população estimada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de quase 145 mil habitantes, o grupo de 18 municípios da rota Termas e Longevidade e do oeste da Serra se divide entre a indústria, o turismo e a agricultura, principalmente na produção da uva. Há destaque para as joias e para a mineração de basalto, respectivamente em Guaporé e Nova Prata, ao mesmo tempo que a deslumbrante paisagem cria a oportunidade de experiências com a natureza, seja na adrenalina dos esportes radicais ou na aconchegante calmaria de águas termais. Com forte influência italiana e uma comunidade acolhedora, esta região também oferece o turismo religioso. O tamanho da região
Os municípios que compõem a rota Termas e Longevidade são Cotiporã, Nova Prata, Protásio Alves, Veranópolis e Vila Flores. As cidades do oeste da Serra, por sua vez, são André da Rocha, Fagundes Varela, Guabiju, Guaporé, Montauri, Nova Araçá, Nova Bassano, Paraí, São Jorge, São Valentim do Sul, Serafina Corrêa, União da Serra e Vista Alegre do Prata. Detalhe: Fagundes Varela, André da Rocha, Nova Bassano e Vista Alegre do Prata passarão a fazer parte da rota Termas e Longevidade a partir de 2023.
Conforme o IBGE, o maior PIB é o de Veranópolis, com R$ 1,5 bilhão, seguido por Nova Prata (R$ 1,3 bilhão) e Guaporé (R$ 949 milhões).
Série A Serra Fala O conteúdo especial sobre as Eleições 2022 vai abrir espaço para a "Serra falar", por meio de entidades representativas e movimentos sociais, e mostrar aos leitores o que cada uma dessas regiões avalia como essencial para o desenvolvimento regional. A questão central que está colocada é: a partir da realidade e do cenário que se vislumbra na Serra gaúcha, o que se espera dos próximos governos? Para isso, a equipe de reportagem conversará com entidades e associações de cada uma das cinco regiões da Serra
Para entender as demandas da região, a reportagem ouviu as seguintes entidades, associações e especialistas: Associação Comercial e Industrial de Veranópolis (Aciv), Associação Guaporense de Automobilismo (Aga), Atuaserra, Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Nova Prata, Câmara de Indústria e Comércio (CIC) de Guaporé, Conselho Regional de Desenvolvimento (Corede) da Serra, Instituto Moriguchi, Sindijoias/RS e o doutor em Arquitetura e Urbanismo Pedro de Alcântara Bittencourt César, coordenador do programa de Mestrado e Doutorado em Turismo e Hospitalidade da Universidade de Caxias do Sul (UCS) e coordenador de projetos ligados ao setor na região.
A seguir, as principais demandas destacadas pelas associações e entidades.
As principais demandas regionais:
Igreja Matriz São Luiz Gonzaga, localizada no centro de Veranópolis
Mirante da Serra, único restaurante giratório do Brasil em uma torre
Gruta do Seminário é um dos pontos turísticos de Guaporé que está na natureza
Desenvolvimento do turismo
Entidades, até mesmo aquelas que não estão ligadas ao turismo, declaram que os municípios precisam potencializar o setor. Sem a mesma movimentação de locais como a Região das Hortênsias, uma avaliação é que essas cidades precisam "se vender mais", uma vez que já contam com atrações de porte.
Isso passaria por uma divulgação melhor, além de construir uma estrutura que comporte um maior número de turistas, como uma maior rede hoteleira e de serviços. Atrações não faltam nas cidades, como o parque de águas termais de Nova Prata, o Caldas de Prata; o Trem dos Vales, que passa pelo Ferrovia do Trigo; a deslumbrante paisagem de Veranópolis, que pode ser vista com voos panorâmicos ou do Mirante da Serra, único restaurante giratório do país que está em uma torre; além do patrimônio histórico de Serafina Corrêa.
— É uma região que precisa de promoção. Tem que ter investimentos e participação através do governo, de espaços, seja no Estado ou no país, para promoção — afirma Beatriz Paulus, diretora-executiva do Atuaserra.
Apesar da declaração de Beatriz considerar o cenário de Nova Prata e outras cidades da Termas e Longevidade, a reportagem ouviu o mesmo anseio de outros municípios. A estrutura turística como um todo deveria contar com novos empreendimentos e profissionalizar aqueles já existentes. De acordo com o Corede Serra, a região conta com, pelo menos, 30 vinícolas, mas a maioria ainda não se adaptou ao enoturismo.
Outra demanda é a melhoria em rodovias e rotas alternativas. Entidades apontam que a BR-470, principal via para a região Termas e Longevidade, não suporta um grande fluxo e facilmente fica congestionada por ter raros trechos com pista dupla. O pedido é a criação de rotas alternativas, até mesmo para o uso de serviços de emergência, por conta da dificuldade que seria duplicar a estrada. A situação é semelhante na região de Guaporé, que tem a RS-129 e a RS-130 como principais vias. A CIC aponta a necessidade de estradas secundárias para os pontos turísticos da área e asfaltamento de trechos de rodovias, como o que faz a ligação da RS-129 com União da Serra.
— Nós temos a BR-470 que atende a movimentação de norte a sul. Já as ligações entre leste e oeste são extremamente precárias — avalia Pedro de Alcântara Bittencourt César, professor e especialista em Arquitetura e Urbanismo.
Com as próprias mãos
Além de ser a Terra da Longevidade, Veranópolis é o berço nacional da maçã, onde a primeira macieira foi plantada no Brasil. Para guardar essa história e unir as duas marcas do município, a rota turística Segredos da Maçã foi criada em 2018. A visão de Claudionor Simonetto, proprietário da Vinícola Simonetto e um dos empreendedores que vê potencial no trajeto, é estratégica: uma atração chama outra. A família de Simonetto reside na comunidade de Monte Bérico, onde a rota está, desde o final do século 19, mas foi apenas com a liderança do vinicultor que o negócio entrou no enoturismo, oferecendo a prova dos vinhos e espumantes, experiências gastronômicas e passeios de bicicleta.
— Percebemos quando o turista vem procurar coisas novas, diferentes e bonitas, com bom atendimento e bons produtos. Estamos trabalhando nesse sentido, de melhorar em tudo. Os viajantes gastam, mas querem qualidade em tudo — lembra Simonetto.
Os empreendedores que estão na rota Segredos da Maçã se reúnem com frequência e têm planos para fomentá-la. Em breve, o trajeto ganhará a sua terceira vinícola e um espaço para eventos:
— Quanto mais pessoas empreendem aqui, é melhor para todos. Se tiver 10 vinícolas, vai atrair por 10 — reforça Simonetto.
Quem também está na rota é a família Fracasso, que vive na região desde o fim do século 19. A história da família de marceneiros é destacada na loja Reino da Longevidade. Os móveis rústicos, feitos por eles mesmos, são usados como mobília do café. Além de curtir uma experiência gastronômica, o turista pode ainda comprar os móveis.
— A Serra é muito bonita, mas acho que temos uma barreira de marketing, de venda da cidade. E aqui da rota, o que buscamos também bastante é a entrada na BR-470, para ter mais segurança para entrar e visibilidade para indicar — aponta Letícia Ana Fracasso, que administra o negócio ao lado dos familiares.
Os empreendedores, assim, vão construindo um atrativo para turistas, mas é claro que os investimentos do poder público são necessários para que a rota possa receber mais visitantes.
O Trem dos Vales, atualmente, tem passeios de agosto a outubro. De acordo com Corede Serra, quarta edição do Trem dos Vales já tem 35 mil bilhetes vendidos
A mesma iniciativa ocorre na região como um todo. De acordo com o Corede Serra, o Trem dos Vales, que vai de Guaporé até Muçum pela histórica Ferrovia do Trigo, abriu pedido na Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) para que o passeio se torne permanente. Em sua quarta edição e já com 35 mil bilhetes vendidos, a atração, por enquanto, funciona de agosto a outubro, nos finais de semana. Além disso, roteiros turísticos estão sendo criados, como Os Filhos de Guaporé, que deve envolver cinco municípios que faziam parte do território da cidade, e uma rota do enoturismo do oeste da Serra, que deve passar por, pelo menos, 10 cidades.
— O Ministério do Turismo tem um programa para enaltecer as regiões de enoturismo. Por mais que os 17 municípios (André da Rocha não está na região, na divisão do Corede) estejam na Região da Uva e do Vinho, eles ainda não são desenvolvidos como um roteiro. É um projeto que a UCS está desenvolvendo, com coordenação do professor Pedro (de Alcântara Bittencourt César) — adianta a presidente do Corede Serra, Mônica Mattia.
Necessidade de equipe multidisciplinar na saúde
Entidades das cidades do oeste da Serra e da região Termas e Longevidade também pedem um maior investimento na saúde, com aumento de repasses financeiros para o setor. Além disso, o Instituto Moriguchi, um centro de pesquisas voltado ao processo de envelhecimento, que atua em Veranópolis, chama atenção para a necessidade de mais equipes multidisciplinares para o atendimento público. Enquanto a oferta de remédios mostra uma melhora, conforme a entidade, há uma carência em profissionais de diferentes especialidades, como nutricionistas, fonoaudiólogos e fisioterapeutas. Como explica a doutora Berenice Maria Werle, pesquisadora do instituto, doenças neurodegenerativas e de outros casos também necessitam de tratamento não medicamentoso.
Da mesma forma, o Instituto Moriguchi percebe que há a necessidade de melhora no atendimento e diagnóstico de doenças neurodegenerativas na Serra.
— Vemos que existe uma demanda muito grande e também uma deficiência bastante grande para esse tipo de serviço — cita Berenice.
Universidade e a formação de mão de obra
Seguindo um cenário de toda a Serra, os grupos e associações dos municípios da encosta do Rio das Antas também notam, em diversos setores, a falta de mão de obra. Seja na indústria, no comércio ou nos serviços, o que se reflete até mesmo no turismo, as entidades enxergam a necessidade da formação e qualificação de novos profissionais.
— Para Guaporé, onde temos 90% dos associados, temos um problema sério. É a falta de mão de obra especializada e comum. Não tem pessoal — observa o presidente do Sindjoias/RS, Léo Clóvis Fabris.
Além do Sindjoias e do Atuaserra, que identifica a falta de capacitação no turismo, a condição também é notada pela Associação Comercial e Industrial de Veranópolis (Aciv). De acordo com a presidente, Rubia Cenci Freitas, é comum um carro de som sair pelas ruas do município oferecendo emprego — até mesmo para quem não tem experiência — e as vagas não são preenchidas. Um dos fatores, inclusive, pode ser a falta de moradias acessíveis ou loteamentos populares na região, o que estaria afastando trabalhadores.
— Além disso, toda a estrutura para distrito industrial também está defasada. Precisamos de mais espaço, de mais um loteamento, um distrito industrial mais moderno com toda a infraestrutura — acrescenta Rubia.
Esse novo espaço é importante, conforme a presidente da Aciv, para que empresas permaneçam e outras se instalem na área.
Um passo importante para qualificação de mão de obra, e que contribuiria para amenizar outra situação, seria uma universidade de ensino presencial em Veranópolis. De acordo com a Aciv, cerca de 20% dos estudantes deixam o município para buscar o Ensino Superior, enquanto outros 40% se deslocam diariamente entre cidades como Nova Prata, Bento Gonçalves e Caxias do Sul. Rubia destaca que uma universidade é imprescindível.
Mudança de cidade
Rodrigo Camargo, 21, nasceu e cresceu em Veranópolis e faz parte dos estudantes que deixaram o município para buscar uma graduação. Há quatro anos, o acadêmico de Cinema decidiu se mudar em definitivo para Caxias do Sul, para estudar na UCS. Camargo relembra que, quando morava na cidade natal, precisava reservar, pelo menos, quatro horas do dia para o deslocamento até a universidade. A rotina dificultava a possibilidade de encontrar um emprego e ainda havia dias de aulas perdidas quando a BR-470 ficava trancada por alguma emergência. Assim, ao lado de outros dois amigos, o jovem tomou a decisão de procurar um apartamento e viver definitivamente em Caxias.
A pandemia fez com que os amigos do estudante retornassem para Veranópolis, mas Camargo permaneceu em Caxias e diz não querer deixar a cidade. O jovem, inclusive, considera que teve um crescimento pessoal com a decisão.
— Eu sou uma pessoa diferente. De quatro anos para cá, quando eu converso sobre isso, digo que sou uma pessoa diferente, e para melhor — celebra Camargo, que descreve gostar de estar próximo do ambiente universitário.
Estrutura do autódromo
Além de ser o polo estadual das lingeries e das joias, Guaporé tem o famoso Autódromo Internacional, responsável por atrair milhares de turistas e profissionais durante o ano inteiro para a região. Da mesma forma, a Mostra Guaporé, feira voltada aos principais segmentos do município, também é realizada na estrutura. A Associação Guaporense de Automobilismo (Aga), que administra o autódromo, busca a reforma dos boxes e uma nova torre. Com obra, a cidade pode receber mais eventos e etapas do automobilismo nacional, como a Stock Car.
— A nossa demanda é por projetos da parte dos governos para liberação de recursos para que a gente consiga melhorar. Os projetos viabilizariam eventos maiores, que podem trazer mais turistas — relata o presidente da Aga, Silvio Borges.
De acordo com Borges, os eventos regionais conseguem lotar a rede hoteleira do município e movimentam os negócios locais. Quando o apelo é nacional, o impacto é maior. Uma etapa da Fórmula Truck, por exemplo, leva de 25 mil a 30 mil pessoas para Guaporé, enquanto uma de Stock Car pode atrair de 70 mil a 80 mil turistas, conforme a Aga.
Vozes
"O momento é virtuoso para os 17 municípios potencializarem as oportunidades turísticas, agregando-se ao roteiro Termas e Longevidade, que tem mais de 20 anos." Mônica Mattia, presidente do Corede Serra
"O turismo movimenta toda uma rede. Movimenta comércio, hotelaria e gera empregos. Nós temos uma cidade (Nova Prata) com potencial muito grande para isso, tanto o turismo rural ou até com a natureza, com as águas termais, e eu vejo que é pouco explorado." Marli Petrykowski, presidente da CDL Nova Prata
"O que esperamos dos futuros governantes é que tenham visão empresarial. Não vejam só a visão política. Tem que olhar mais as necessidades das empresas. Tem que saber ouvir o que estamos precisando." Léo Clóvis Fabris, presidente do Sindjoias/RS
"Esperamos que os futuros governantes olhem para o turismo. Que o turismo e os serviços estejam ocupando um lugar tão importante quanto a agricultura e indústria. Não queremos competir, mas que a gente tenha esse olhar." Beatriz Paulus, diretora-executiva do Atuaserra
"Precisamos traçar um caminho para o longo prazo. Às vezes, vamos apagando o incêndio do dia a dia, mas para o futuro é importante para que as entidades façam juntamente com o poder público para que isso possa trazer um benefício lá na frente." Rubia Cenci Freitas, presidente da Associação Comercial e Industrial de Veranópolis
"Se eu fosse pedir alguma coisa, eu diria: nos ajudem a construir equipes multidisciplinares na estrutura pública, em que as pessoas possam contar com ela." Berenice Maria Werle, pesquisadora do Instituto Moriguchi
O que apontam as entidades
Associação Comercial e Industrial de Veranópolis - presidente Rubia Cenci Freitas
Manter BR-470 federalizada, com ampliação para terceira pista.
Qualificação e atração da mão de obra.
Construção de distrito industrial em Veranópolis.
Diálogo dos governos com empresários.
Setor habitacional popular para Veranópolis.
Valorizar turismo.
Ter uma universidade em Veranópolis.
Associação Guaporense de Automobilismo (Aga) - presidente Silvio Borges
Reforma dos boxes e construção da nova torre no autódromo de Guaporé.
Otimização na liberação e distribuição de recursos públicos.
Atuaserra - diretora-executiva Beatriz Paulus
Promoção do turismo.
Pavimentação de estradas e sinalização das atrações no interior.
Qualificação da mão de obra em serviços.
Potencializar programa de regionalização, para desenvolvimento conjunto de municípios.
Melhoria da RS-441, entre Nova Prata e Vista Alegre do Prata, e RS-324, entre Nova Prata e Passo Fundo.
Melhorar sinal de internet na região.
Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Nova Prata - presidente Marli Petrykowski
Fomentar o turismo.
Redução de impostos para os pequenos e médios empresários.
Câmara de Indústria e Comércio (CIC) de Guaporé - presidente Edmilson Norberto Zortéa
Suspensão do Edital de Concessão das Rodovias do Bloco 2, especialmente da RS-129 e da RS-130, para discussão e aperfeiçoamento.
Investimento em infraestrutura, como estradas secundárias aos pontos turísticos regionais.
Ligação asfáltica entre União da Serra e a RS-129.
Investimentos para formação e qualificação de mão de obra.
Investimento em acessibilidade digital (5G) para todas as comunidades de Guaporé.
Ampliação de repasses financeiros para as áreas de saúde, especialmente o Hospital de Guaporé.
Conselho Regional de Desenvolvimento (Corede) da Serra - presidente Mônica Mattia
Fortalecimento da Secretaria Estadual de Turismo.
Novas ferramentas e estratégias para potencializar e divulgar roteiros turísticos.
Ferramentas tecnológicas para atendimento aos turistas.
Instituto Moriguchi - Berenice Maria Werle, pesquisadora
Aumentar e melhorar atendimento e diagnóstico para doenças neurodegenerativas.
Ter mais equipes multidisciplinares na rede pública.
Sindijoias/RS - presidente Léo Clóvis Fabris
Qualificação de mão de obra.
Revisão do valor limite para fazer parte do Simples Estadual.
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