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Como adaptar as empresas à longevidade

DEZ 12, 2022

André Rito - Expresso. Confira matéria original aqui.


Nuno Fox


Desde 2019 até aos dias de hoje muita coisa mudou no mercado de trabalho. A pandemia mostrou-nos ser possível adotar outros regimes, como o trabalho remoto ou modelos híbridos entre o trabalho presencial e à distância. Há no entanto problemas estruturais que ainda se mantêm nas empresas portuguesas. Este foi o tema das Conversas sem Fim, do projeto do Expresso Longevidade, que em três painéis de discussão procurou analisar e responder aos desafios cada vez maiores das empresas na sua relação com os funcionários, especialmente com os mais velhos.


“Work-life Balance pode ajudar na nossa longevidade?”, o primeiro debate, contou com a presença de Sílvia Nunes, Diretora, Michael Page (autora do podcast “Profiler”) e Ricardo Parreira, CEO, PHC Software; já o segundo procurou responder à pergunta “Que peso tem o trabalho na nossa longevidade?”, com Jorge Barroso Dias, Presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina do Trabalho & Diretor Clínico de Saúde Ocupacional da CM Lisboa e Diana Vilela Breda; e por fim uma conversa destinada às mudanças que as empresas precisam de implementar, com Maria de Belém Roseira, ex-ministra da Saúde, e Regina Cruz, fundadora da WellBeing.


Estas foram as principais conclusões:


Work-Life Balance

Como podemos equilibrar de forma saudável a nossa vida pessoal com o trabalho? Num tempo de fortes transformações laborais, Sílvia Nunes defende que este conceito de work-life balance pode contribuir, através de um conjunto de ações, para um maior retorno das empresas mas também para um aumento da produtividade dos colaboradores. “Está nas mãos das empresas perceber estas necessidades”, afirmou, dando como exemplos a flexibilidade, o trabalho remoto quando este é possível, mas acima de tudo uma característica que falta às empresas portuguesas: uma escuta ativa das necessidades e dificuldades dos trabalhadores.


Ser feliz no trabalho

Ricardo Parreira apresentou um dado que revela muito sobre a forma como os empresários ainda gerem os seus negócios: um trabalhador feliz produz mais 10% que uma pessoa normal, e um trabalhador infeliz produz metade, cerca de 50%. “A longevidade é o resultado de um estilo de vida saudável”, começou por dizer CEO da PHC Software. “A nossa vida tem várias dimensões, desde o trabalho, relações sociais, família, saúde, tratarmos bem do nosso corpo e dormirmos. “Precisamos de equilibrar isto tudo, o que vai muito além do trabalho”, afirmou acrescentando que cabe também às empresas perceber o que faz feliz os seus colaboradores: “Se as empresas trabalharem no sentido de ajudar a encontrar estas respostas vão contribuir muito para a longevidade dos seus trabalhadores”


Adaptar o posto de trabalho

Jorge Barroso Dias não tem dúvidas de que “precisamos de uma longevidade assente no envelhecimento saudável e ativo”. E se tantas vezes os mais velhos são olhados como pouco produtivos, também é preciso lembrar que o fim do trabalho coincide muitas vezes com o aparecimento de doenças e degeneração da saúde. É por isso que o presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina do Trabalho & Diretor Clínico de Saúde Ocupacional da CM Lisboa lembra a importância de as empresas se adaptarem ao trabalho sénior. E aqui surge uma palavra-chave: prevenção. Se a medicina do trabalho, obrigatória por lei, ainda é um instrumento válido para apurar as necessidades dos trabalhadores mais velhos, a saúde ocupacional ainda está longe de ser implementada. “É preciso adotar comportamentos mais saudáveis na vida e no trabalho.”


Valorizar e respeitar

Se o trabalho é um fator fundamental na nossa identidade, Diana Vilela Breda, Presidente do Conselho Diretivo-CEO do Hospital Arcebispo João Crisóstomo, refere que o seu peso na longevidade é ambíguo: “trabalhar hoje com 70 anos, não é igual ao que acontecia há muitos anos, e o Estado nisso ainda continua a ter regras muito rígidas”, afirma, acrescentando a necessidade de valorizar o trabalho dos mais velhos. O Hospital Amigo dos Mais velhos ajudou os meus colaboradores a terem um propósito, uma lógica multidisciplinar. Temos um programa de ioga que foi uma terapeuta que se ofereceu a fazer.” Diana Vilela Breda diz ainda que “o trabalho não pode ser a única coisa que nos define. “Precisamos de tempo para as nossas relações sociais, para a família. As pessoas que envelhecem melhor são aquelas que têm uma rede social de apoio.”


Novas medidas

Que mudanças precisam de ser implementadas nas empresas? Para a ex-ministra da Saúde, o diagnóstico não é positivo: “temos problemas gravíssimos no conceito do que é uma boa empresa. É a que consegue gerar muitos recursos para o acionista ou aquele que considera que o seu ativo são as pessoas? Sem elas, uma empresa não é nada.” A isto, Regina Cruz acrescenta “as empresas não servem apenas para produzir lucro”. “As pessoas não são máquinas, são organismos vivos, tais como as empresas.” Fazer um programa de bem-estar organizacional, diz a especialista, dá muito trabalho. “Temos de vivenciar o caminho, perceber que vai demorar tempo. Precisamos de tornar o sistema mais cheio de vida. Falar de um sistema de organizações num sistema que é por si insustentável não faz sentido. Temos de ter pessoas nas empresas que sejam ecossistémicas.

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