JAN 04, 2022
David Braga - Diário do Comércio. Confira matéria original aqui.
Mais do que tendência, uma das principais práticas no mercado de trabalho, hoje, é a promoção da diversidade e inclusão, com equidade no ambiente corporativo. As gerações mais novas estão chegando às empresas e ocupando cargos de liderança, reivindicando mudanças na gestão de pessoas. Por outro lado, as organizações mais estratégicas já possuem áreas de diversidade, para orquestrar sobre o relevante tema.
As empresas que não adotarem a diversidade como estratégia de negócio estarão cada vez mais fora do mercado, especialmente no Brasil, onde vivenciamos a diversidade em todos os aspectos: cultural, étnico, de raça, gênero, idade e diversas outras vertentes, incluindo, até mesmo, formações acadêmicas. Tudo isso impacta diretamente a questão, inclusive, de employer branding ou o famoso EVP – Employee Value Proposition, quanto à atração de novos profissionais.
Se estamos em momento de disrupção do mercado de trabalho e a escassez de mão de obra é latente, tratar de diversidade é essencial. O público comprador é diverso e, se ele não perceber isso na empresa, a marca com certeza será afetada. É preciso cuidar de todo o ecossistema para tratar de diversidade e não apenas criar comitês de discussão sobre os variados temas. E tais programas só passarão a ser efetivos quando a empresa responsabilizar, de fato, os gestores, ou seja: impacto no bônus. Não aumentou o número de mulheres, LGBTQI+ e demais diversidades no time? Não ganha o bônus. Cultura se muda com rotina e é extremamente vital para as empresas estarem atentas ao tema diversidade, pois isso está diretamente atrelado não apenas à marca, mas também ao bem-estar de seus profissionais, além de afetar diretamente na lucratividade das organizações.
Diversidade é convidar para a festa e inclusão é chamar para dançar. É preciso ir além de programas que têm apenas visibilidade de marketing. É importante ter isso como DNA da empresa, arraigada à cultura da organização, para que possa ser possível vivenciá-la no dia a dia.
Vale destacar que um dos grandes desafios das empresas também é a promoção genuína de diversidade de pensamento. Trabalhar com times cada vez mais diversos gera um impulso à inovação e ao pensamento crítico, que questionam o status quo, ou seja, o modo como as coisas são feitas. Todavia, saber conviver nesse espaço diverso é fundamental, e essa habilidade precisa começar a ser aprimorada e estimulada desde a infância, nos ambientes de casa e das escolas.
É de suma importância também repensar o currículo escolar e o modus operandi da educação pelos pais, proporcionando para as crianças e adolescentes, uma pluralidade de pensamento, sem juízo prévio sobre o que é certo ou errado. Isso significa um conteúdo a ser constantemente questionado, construído e remodelado, para que aprendam, com naturalidade, a atuar em times multidisciplinares.
Para ser um profissional diferenciado, é essencial saber expor ideias e opiniões, como também ouvir, ter empatia e, sobretudo, mente aberta para mudar sempre que necessário. Para os líderes, trabalhar a multidisciplinaridade nos times é ainda mais desafiador. E aqueles que não promoverem diversidade de pensamentos não evoluirão e podem perder os talentos.
Diante desse cenário e em tempos cada vez mais disruptivos, as empresas e lideranças precisam ampliar a contratação de perfis diferentes, de olho na perenidade da organização. Isso porque a pluralidade promove mudanças positivas nos padrões e inovação, que, por sua vez, apoiam a transformação de estratégias e potencializam ganhos financeiros, além da tão falada atração dos melhores profissionais do mercado.
Precisamos, portanto, aniquilar os estereótipos do nosso discurso e das nossas atitudes. Se falamos tanto sobre inovação, como é possível obtê-la sem a diversidade? Lindo no discurso e árduo na prática. Empresas que têm o discurso desconectado da prática, ou seja, aquelas demagogas, também atraem esse mesmo perfil de pessoas. Com isso, perdem os melhores talentos, que são exatamente os profissionais diferenciados, que desenvolvem melhoria contínua e possibilitam os resultados exponenciais às corporações. Assim, consequentemente, constroem-se empresas, lideranças e colaboradores medíocres, cujo mote da gestão é poder e controle. E, como é possível perceber, várias companhias já foram à falência devido a esse tipo de mindset.
E para essa criação de cultura e solidificação dos conceitos e práticas de diversidade, cabe às áreas das empresas – que cuidam deste âmbito – atuarem de forma pragmática, criando engajamento e mostrando a importância do tema, trazendo ações práticas. Infelizmente não é pequena a lista de líderes das áreas de diversidade que ainda adotam a postura ativista ou mesmo de auditor.
É preciso trazer consciência, com empatia, conexão e naturalidade, lembrando que um processo de transformação leva tempo. Urge termos dentro das organizações práticas cada vez mais humanizadas, inclusivas, tratando da diversidade e equidade desde os conselhos de administração até a alta gestão, por estar totalmente conectado ao relevante tema de ESG (Environmental, Social and Corporate Governance), o que aumentará as chances de perenidade das empresas daqui para frente.
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