JUN 21, 2022
Agência AIDS. Confira matéria original aqui.
Começaram no último dia 14 de junho os encontros do projeto Travestis Também Envelhecem – Visibilidade, Inclusão e Cidadania, desenvolvido pela Gestos e que reúne um grupo de convivência, formado por 14 travestis e mulheres transexuais em processo de envelhecimento. O objetivo é lançar luz sobre as condições de vida dessa população no Recife, contribuindo para a formulação e implementação de políticas públicas. Ao todo, serão 10 encontros presenciais até janeiro de 2022.
“Eu achei essa ideia fantástica, porque era uma coisa que estava chegando para mim”, comenta a performer e educadora social, Cristiane Falcão. Ela conta que durante a juventude ganhou vários títulos de beleza. Hoje, aos 50 anos de idade, confessa ter dificuldades em lidar com o próprio envelhecimento. “Por ter vivido na juventude e ter ganho vários títulos de miss, envelhecer é um grande problema. Eu estava tendo que lidar com isso sozinha, mas agora não. Tenho outras meninas da mesma idade e vamos poder discutir, nos entender e encontrar o melhor caminho para envelhecer”.
O projeto Travestis Também Envelhecem foi criado para estimular o protagonismo e a cidadania das participantes, desenvolvendo atividades terapêuticas coletivas focadas nesse tema. “Trabalhar com a questão do envelhecimento diz respeito a um o processo que é individual, embora existam questões que sejam comuns a todas” comenta o psicólogo da Gestos, Glaudston Lima. “Compartilhar as particularidades de cada processo vai ajudar, com certeza, a criar uma troca de experiências e isso é sempre um fator terapêutico muito importante”.
A Gestos realiza trabalho com travestis e mulheres transexuais desde 2001, quando foi formado o primeiro grupo psicoterapêutico com essa temática que, a partir de 2002, passou a se chamar OXUMARÉ e a empreender atividades educativas e de controle social. Em 2006, as integrantes fizeram um levantamento sobre o perfil das mulheres trans e travestis em 10 pontos de trabalho sexual do grande Recife, além de um ação educativa sobre prevenção e Direitos Humanos com a população trans nas cidades de Recife, Olinda, Jaboatão e Caruaru.
Coordenando esta nova iniciativa, Jair Brandão, assessor de projetos da Gestos, explica que foi a partir dessa experiência que surgiu a constatação de que há uma parcela significativa das travestis e mulheres transexuais que já ultrapassaram a estimativa de vida dessa população no Brasil (35 anos), mas que não é contemplada pelas políticas públicas, ou mesmo por organizações, grupos e ações pontuais. “Elas necessitavam de um espaço que fosse delas, para que pudessem falar sobre o que é ser uma travesti ou mulher transexual acima dos 50 anos”.
Além das atividades terapêuticas, será realizado um levantamento sociodemográfico inédito no Recife, que busca identificar o perfil e as condições de vida das travestis e mulheres transexuais acima dos 50 anos vivendo na cidade. O material será entregue aos conselhos municipais de Saúde, da Pessoa Idosa, dos Direitos Humanos e de Assistência Social. A pesquisa também deve subsidiar a elaboração de um documento que será apresentado pelas próprias, integrantes do grupo, aos/às gestores/as e parlamentares do estado.
Para o sociólogo Acioli Neto, a existência desse projeto já carrega, em si, um grande impacto social. “Poder dar visibilidade (voz e vez) a travestis e mulheres trans acima dos 50 anos aqui em Recife é um marco; é o início de um novo momento e outras instituições já estão começando a fazer esse trabalho, que é muito importante e tende a gerar mais frutos como, por exemplo, a criação de políticas públicas específicas para esse segmento”.
O projeto Travestis Também Envelhecem é uma realização da Gestos com o financiamento do Fundo do Conselho Municipal de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa do Recife (COMDIR) e apoio da Amotrans, NATRAPE, da GLOS do Recife, Fórum LGBT de PE e do Conselho Estadual de Promoção dos Direitos da População LGBTI+ de PE.
Fonte: Gestos
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