JAN 29, 2022
Helena C. Peralta - Dinheiro Vivo. Confira matéria original aqui.
A chamada "silver economy", dos maiores de 55 anos, valerá, já em 2025, 5,7 biliões de euros na Europa. Portugal precisa de acelerar para não perder o comboio e apostar mais neste segmento de elevado potencial de crescimento. Conheça algumas empresas que foram criadas a pensar nas necessidades dos mais velhos.
Cerca de quatro milhões de portugueses têm mais de 55 anos de idade. © Leonardo Negrão / Global Imagens
Em 2020, a Organização das Nações Unidas (ONU) declarou os anos compreendidos entre 2021 a 2030 como a década do envelhecimento saudável, mostrando um claro sinal de que os países deverão preparar-se para os desafios que a longevidade acarreta, como seja manter a qualidade de vida. A Organização Mundial da Saúde (OMS) projeta que, em 2050, a população mundial com mais de 60 anos ultrapasse os dois mil milhões de pessoas e que, na Europa, mais de um terço da população estimada para essa data tenha mais de 65 anos. Portugal é um dos países mais envelhecidos da Europa, tendo atualmente cerca de quatro milhões de pessoas com idade igual ou superior a 55 anos. Esta é, pois, a faixa etária considerada para avaliar a chamada "silver economy", ou seja, o mercado de bens e serviços destinados a pessoas sénior. Segundo um estudo realizado pela Technopolis Group e a Oxford Economics para a Comissão Europeia - feito em 2018, mas que continua a ser o mais recente - as estimativas apontavam para que, em 2025, este setor pese na economia, só na Europa, qualquer coisa como 5,7 biliões de euros. E grandes desafios representam boas oportunidades de negócio: novos serviços surgirão e com eles novas funções e profissões. Idosos ativos são consumidores de, para além dos tradicionais produtos, vários tipos de viagens, produtos e serviços de tecnologia para o cuidado geriátrico, novas soluções terapêuticas integradas, consultoria e requalificação de competências, entre muitos outros. Por tudo isto, além das grandes empresas, como as farmacêuticas, que já procuram há anos soluções integradas para o mercado da longevidade, começam agora surgir inúmeras startups destinadas a esta franja da população, com negócios que ultrapassam as soluções meramente sociais, nomeadamente na transformação digital. Em Portugal existem já bons exemplos.
Ageless Portugal focada em maiores de 55 anos Mónica Póvoas, fundadora da Ageless Portugal, foi aprofundando a consciência de que o mercado dos maiores de 55 está em crescimento e necessita de investimento direcionado. Decidiu então transformar o seu conhecimento num negócio real, criando a empresa que disponibiliza ao mercado um conjunto de serviços e produtos especializados para pessoas desta faixa etária, tendo como principal meta o envelhecimento saudável, mais ativo e mais inclusivo. "A Ageless Portugal, enquanto agência de comunicação, marketing e eventos focada nas pessoas com 55 ou mais anos tem trabalhado em projetos que pretendem conhecer melhor este mercado e, assim, ajudar a traçar um perfil do comportamento do seu consumidor", afirma esta responsável.
A empresa define-se como promotora de mudança de comportamentos e atitudes, procurando quebrar estereótipos idadistas (envelhecimento associado a ideias negativas como doença, exclusão, etc.) e atua em áreas como a aceleração de projetos de empreendedorismo, consultoria, apoio ao investimento e apoio personalizado. "Portugal ocupa a 8.ª posição enquanto país europeu com menor qualidade de vida para os seus idosos, ranking este liderado pela Suíça, Noruega, Suécia e Alemanha. No entanto, o país já vai tendo algumas iniciativas que demonstram preocupação com as suas necessidades", diz. Mónica Póvoas afirma ainda que as marcas estão mais conscientes de que este é um público enorme e lucrativo, e por isso estão a captar cada vez mais a sua atenção devido à sua capacidade de adaptação às novas tecnologias.
Por outro lado, refere que a população ao aproximar-se dos 50 anos deparar-se com dificuldades de crescimento profissional ou requalificação. "Nas organizações, quem abrir oportunidades de atração e retenção, assim como desenvolver novas estratégias de reskilling e upskilling continuará a contar com uma mão-de-obra produtiva, motivada e capaz de contribuir para a inovação nos negócios".
É precisamente para atuar neste nicho específico do mercado que Jorge Fonseca fundou, em 2015, em parceria com um grupo de formação, a George - Executive Advisor, consultora especializada em mudança de carreiras, sobretudo para o público que, perto dos 50 anos, enfrenta dificuldades profissionais e pretende mudar de vida "Se há áreas em que os cabelos brancos são muitos valorizados é na consultoria, como a jurídica, por exemplo. Em outras áreas, em que a idade é menos valorizada, há que trabalhar bem o currículo, apostar no percurso da pessoa para conseguir «vender» o profissional da melhor forma, ou apoiar na sua requalificação".
Este responsável, depois de 20 anos ligado ao setor do recrutamento profissional, tem conhecimento aprofundado do mercado e sabe quais as áreas em que os candidatos seniores podem ou não apostar. Cerca de 90% dos seus clientes são particulares que procuram um realinhamento profissional, sendo que a maior parte está empregada, porém insatisfeita. "Tento direcionar os meus clientes para negócios em crescimento", explica.
Atualmente Jorge Fonseca é o único acionista da empresa, e acredita que esta é uma atividade com futuro, pois, não é fácil conseguir sem apoio, nesta fase mais madura da vida, uma viragem de carreira.
Humanamente para apoiar a mente humana Foi também a pensar na silver economy, ainda que numa vertente mais social do que puramente económica, que Patrícia Paquete avançou, há dez anos, com a criação da empresa Humanamente. Terapeuta ocupacional, licenciada em Alcoitão, e com doutoramento na Faculdade de Ciências Médicas de Lisboa, que incidiu no bem-estar de pessoas com demência, apercebeu-se da falta de soluções para este tipo de público. Criou assim, em parceria com duas sócias, o seu próprio emprego.
"A Humanamente surgiu porque conhecia bem o mercado e tinha consciência de que havia um problema que não estava a ter resposta social", afirma a responsável da empresa que, em 2014, recebeu um prémio de empreendedorismo. Constituída com fundos próprios, materializa-se através de um site no qual é possível adquirir serviços e produtos que apoiam o idoso, sobretudo numa fase de demência. Na loja virtual o cliente, o próprio ou o cuidador, pode comprar e-books com jogos e passatempos, puzzles e jogos para estímulo mental e sensorial.
Por outro lado, as instituições, como lares, residências e outras, podem ainda comprar os serviços associados, como a formação mais especifica para este público.
"O que nos diferencia no mercado é que ajudamos a combater o idadismo. O meu objetivo é mudar mentalidades, mudar a forma como se prestam cuidados a estas pessoas, promovendo o bem-estar. Aos poucos vou colocando a semente daquilo que são as boas práticas", refere Patrícia Paquete.
A formação em posto de trabalho, dada nas próprias instituições, sobretudo nas IPSS, é atualmente a maior fatia deste negócio, e curiosamente, foi em plena pandemia que registou a maior faturação, o que prova que nesta fase houve maior preocupação com os mais velhos.
Quer a Sioslife quer a Actif são duas empresas que apostam sobretudo nas novas tecnologias para apoiar o público idoso. A Sioslife, fundada por Jorge Oliveira, CEO, e Fábio Macedo, ambos engenheiros informáticos, chegou ao mercado há cerca de oito anos, tendo começado como um projeto de investigação universitário. Oferece soluções tecnológicas para a população mais envelhecida, combatendo a solidão e a falta de socialização.
"Começámos por visitar instituições e percebemos que havia entre os mais velhos um sentimento de exclusão social. Assim decidimos desenvolver sistemas interativos user-friendly, materializados em computadores para lares e centros de dia, com hardware e software adaptados, focados em interfaces naturais", explica Jorge Oliveira.
Atualmente, a Sioslife, além de facilitar a comunicação e a socialização, tem ainda uma vertente de saúde mental, com estimulação cognitiva, musicoterapia, e uma vertente de saúde física, com sensor de movimentos.
A Sioslife disponibiliza dois tipos de tablets, um mais direcionado para instituições de acolhimento e outro mais direcionado para casa, e ainda ferramentas de apoio de backoffice, quer através de aplicações móveis, destinadas quer aos cuidadores formais quer aos informais, para fazer toda a gestão do dia a dia.
O modelo de negócio passa por parcerias com entidades que prestam serviços de apoio, e já está presente em cerca de 500 instituições, alcançando cerca de cinco mil utentes. O próximo passo para a Sioslife, que está prestes a recolher uma nova ronda de investimento, é acelerar a sua internacionalização, sendo que já está presente em mais de uma dezena de instituições em Espanha.
Atividade física precisa-se "A Actif surgiu pela necessidade de colocar as pessoas mais velhas a fazer mais exercício. Identificámos inúmeras lacunas nos lares e centros de dia que não têm capacidade de implementar estimulação suficiente, bem como nas pessoas que estão em casa", explica Sara Gonçalves, CEO e cofundadora. A ideia da startup surgiu em 2020, em plena pandemia, e consiste numa plataforma web, que tem vídeos de atividades físicas e cognitivas, que se dividem em várias áreas, como ioga, tai-chi, fitness, estimulação cognitiva, entre outras. Esta plataforma é compatível com vários equipamentos, seja o smartphone, o tablet, a smart TV, ou qualquer outro com acesso à internet.
"Recolhemos dados clínicos das pessoas e os seus interesses para assim podermos sugerir um plano semanal que vá de encontro ao que o utilizador necessita", explica Sara Gonçalves.
A empresa, que já tem uma equipa de dez pessoas, está incubada na Casa do Impacto e vai receber brevemente uma ronda de investimento. A Actif tem entre os seus clientes o grupo José de Mello e a Misericórdia do Porto e pretende chegar brevemente a 50 instituições nacionais. Além disso, está também a iniciar os primeiros contactos internacionais.
Apesar de não estar ainda em comercialização para a comunidade em geral, a plataforma está aberta a quem quiser experimentar de forma gratuita, que passará depois a um modelo de subscrição, como já tem, aliás, para as instituições. "Costumamos dizer que somos uma espécie Netflix saudável", brinca a responsável.
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