AGO 27, 2021
Liliane Rocha - Época Negócios. Confira matéria original aqui.
É preciso ensinar as crianças, futuros jovens e adultos, a amar, respeitar e acolher todas as pessoas, valorizando a diversidade e a inclusão
É preciso promover a inclusão (Foto: Getty Images)
Virou algo muito recorrente. Estou participando de uma conversa com executivos e empresários quando eles comentam, felizes da vida, como as novas gerações - seus filhos e netos - estão mais abertos, compreensivos e empáticos em relação à diversidade.
Geralmente eles complementam, em tom de brincadeira, dizendo que ficam muito orgulhosos quando os filhos os corrigem. Essas novas gerações são rápidas para mostrar aos pais que disseram algo que não é inclusivo, ou manifestaram vieses inconscientes discriminatórios e ultrapassados, que não são mais aceitos ou não condizem nos dias atuais.
Eu confesso que isso me dá uma alegria no coração. Fico emocionada em pensar que a humanidade possa estar evoluindo, que estejam nascendo novos seres humanos para uma nova sociedade. Mas sempre lembro nesse momento dos filósofos Rousseau e Hobbes. Rousseau dizia que “o homem nasce bom, e a sociedade o corrompe”. Já Hobbes dizia que “o homem é o lobo do homem”.
Sempre reflito se os filhos e os netos dos meus colegas, amigos e clientes da Gestão Kairós realmente nasceram com uma melhor compreensão sobre a aceitação e a diversidade. E, neste caso, se continuarão assim ao longo dos anos - após passarem por influências sociais, vivenciar privilégios, notar o tratamento diferenciado que a sociedade por vezes lhes dará. Imagino se seguirão firmes e fortes em um comportamento mais cidadão, inclusivo e sustentável.
Ou, ainda, se por natureza não são em essência seres discriminatórios, que precisarão lutar contra isso para se manterem pessoas boas, justas, atuando durante toda uma vida em acordo com valores humanos universais.
Tudo isso porque, por mais incrível que seja essa nova geração, por exemplo, caso estude em escolas particulares muito cedo, vivenciará na prática a ausência de professores e colegas de classe que sejam negros. Também absorverá uma lógica social na qual os colegas de trabalho de seus pais têm uma raça e etnia predominantes, possivelmente brancos, e os funcionários dos prédios e condomínios fechados em que vivem têm outra, provavelmente negros. Tão pouco conviverá, a depender do rumo de algumas discussões políticas que vêm acontecendo, com crianças com deficiência, de baixa renda e por aí se vai.
Recentemente, assisti a um vídeo de uma experiência social que me remete muito a estas reflexões. O experimento social produzido em 2020 pela Naked Heart Foundation – ONG que se dedica a cuidar de crianças que são abandonadas por suas famílias por serem pessoas com deficiência – mostra crianças de diferentes idades tendo que escolher entre dois espaços lúdicos, disponibilizados lado a lado, exatamente iguais e com os mesmos brinquedos à disposição. Entretanto, em uma delas há uma criança com Síndrome de Down que acena para as outras crianças, quase como um convite para que se juntem a ela. No experimento, é possível notar que crianças com menos de cinco anos, ou seja, mais novas, têm mais facilidade em ter um comportamento inclusivo, se dirigem ao espaço no qual está a criança com deficiência, não percebendo a diferença entre elas, e juntas se divertem. Já as crianças em torno dos seis anos ou mais preferem ir para o espaço vazio, ou seja, preferem ficar ou brincar sozinhas.
Quando vi esse vídeo pela primeira vez, lembro de ter pensado que seis anos talvez seja o tempo que a sociedade, tal como está, posta, com tantas influências discriminatórias, demore para começar a atuar sobre o comportamento e a percepção de mundo das crianças.
A boa notícia é que, por esta perspectiva, como diria Rousseau, o ser humano nasce bom, nasce sem preconceitos, nasce inclusivo e, se tiver estímulos positivos da família, das escolas, da sociedade, possivelmente seguirá assim por toda a sua vida. Ou seja, se os seus filhos te enchem de orgulho por serem inclusivos, reforce e cultive esse comportamento neles ou nelas. Ou, como diria Mandela, “Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, ou por sua origem, ou sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se elas aprendem a odiar, podem ser ensinadas a amar, pois o amor chega mais naturalmente ao coração humano do que o seu oposto. A bondade humana é uma chama que pode ser oculta, jamais extinta.” Por isso, vamos assumir hoje o pacto de ensinar as nossas crianças, futuros jovens e adultos, a amar, respeitar e acolher todas as pessoas, valorizando a diversidade, a inclusão e a vida!
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