FEV 14, 2022
Bárbara Nór - Você RH. Confira matéria original aqui.
Cottonbro/ Pexels/Divulgação
O Brasil está cada vez menos jovem. Com a população vivendo mais tempo e a taxa de natalidade em queda, o número de pessoas acima de 60 anos está crescendo mais rápido do que o de crianças de até 9. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o número de pessoas na faixa acima dos 60 teve um aumento de 29,5% só entre 2012 e 2019. Em 2050, ano em que a expectativa de vida deve subir dos atuais 76,8 para 80 anos, essa parcela deve representar 30% dos brasileiros.
Somam-se a esses fatores os avanços da medicina e da qualidade de vida, e o que resulta é um descompasso entre o estereótipo da maturidade recolhida em casa, longe do trabalho e da sociedade, e a realidade. “Temos 26% da população com mais de 50 anos. Mas, nas organizações, a média de funcionários nessa faixa etária é de 3% a 5%”, afirma Andrea Tenuta, líder comercial da Maturi, plataforma de vagas para o público sênior. Na maior parte dos casos, essas pessoas chegaram a essa idade já dentro das companhias; não foram contratadas na maturidade. “A maior parte das empresas que apresentam uma política de diversidade bem estabelecida ainda não tem uma frente para olhar questões geracionais”, diz Andrea.
No mercado, a atenção se volta quase toda para os jovens. Os escritórios, por exemplo, foram pensados nos últimos anos tendo esse público em mente, desde a escolha da decoração até a inclusão de itens como mesas de bilhar, videogames e geladeiras cheias de snacks. Da mesma forma, investe-se bastante no desenvolvimento e na contratação dos mais novos. “É todo um apelo para o jovem, ignorando uma parcela significativa da população que tem muita energia e precisa contribuir ainda”, diz Ricardo Sales, sócio-fundador da consultoria Mais Diversidade e criador do Fórum Gerações, para discutir a diversidade geracional. “Com a reforma da previdência, as pessoas com mais de 50 precisam continuar a ter acesso ao mercado de trabalho, porque vão demorar mais para se aposentar”, afirma Ricardo. Mas o que ainda é comum nas empresas para esse público são justamente programas que encaminham para a demissão voluntária e a aposentadoria. E não é só o mercado que parece se esquecer dessa parcela da população. Para Sergio Serapião, CEO e cofundador da Labora, plataforma de seleção focada em pessoas acima dos 50, vivemos no Brasil uma cultura “jovem-cêntrica”, exaltando tudo o que é novo, em detrimento do que não é. “A gente acha que o presente pertence aos jovens”, afirma Sergio. “Associamos inovação, criatividade e tecnologia a eles.” Já os mais velhos teriam uma suposta rejeição ao digital e seriam menos capazes de contribuir com novas ideias.
Esse tipo de preconceito relacionado à idade é chamado de “etarismo” (ou ainda “idadismo” ou “ageísmo”, do inglês ageism) e pode ocorrer com qualquer faixa etária. Um exemplo seria julgar que os jovens são irresponsáveis, ou imaginar que pessoas mais velhas têm dificuldade de aprender. Em uma estimativa da ONU, uma em cada duas pessoas no mundo já teve algum tipo de atitude preconceituosa em relação a alguém mais velho.
Remuneração social
E essa exclusão tem impactos. “O trabalho é central na vida do indivíduo adulto e fonte de prazer e realização social”, diz a psicóloga do trabalho Miryam Mazieiro, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Segundo ela, além do retorno financeiro, o trabalho garante a “remuneração social”: status, realização pessoal e sentimento de pertencer a uma profissão ou empresa. “Isso é um fator protetor da saúde mental — o indivíduo se sente útil, criativo, reconhecido.” A garantia de espaço de trabalho traz, assim, menos estresse, medo e ansiedade para essa população.
Essa é a percepção também do consultor Mauro Wainstock. Em 2019, ele fundou o Hub 40+, comunidade de inclusão geracional. “Em breve, vamos viver acima de 100 anos e precisamos discutir como será nossa saúde física e mental, como vamos sustentar isso”, diz.
Leia mais em: https://vocerh.abril.com.br/diversidade/o-que-as-empresas-perdem-ao-dispensar-profissionais-com-mais-de-50/
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