MAR, 2022
Dignus. Confira matéria original aqui.
Retrato das Residências Sénior em Portugal: Existem cerca de 2,42 milhões de residentes em território nacional com mais de 65 anos.
Portugal é um dos países mais envelhecidos do mundo. O ritmo de envelhecimento da população tem vindo a acelerar de forma expressiva, levando a que existam, atualmente, 182 idosos por cada 100 jovens. Há resposta por parte das Residências Sénior, mas apesar do surgimento de novas unidades, acompanhada de um reforço da qualidade dos serviços, o número de camas continua desajustado face a uma procura elevada, um desequilíbrio que se traduz em preços cada vez mais elevados face à realidade socioeconómica do país.
De acordo com a Aging In Place, uma organização norte-americana de prestação de serviços, que baseou a sua análise nos dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), Portugal ocupa a quinta posição dos países mais envelhecidos do mundo, num ranking de 30 países liderado pelo Japão. Apresenta uma das taxas mais elevadas de população acima dos 65 anos que, em 2021, ascendia a 23,4% do total, segundo os últimos Censos.
Existem cerca de 2,42 milhões de residentes em território nacional com mais de 65 anos, sendo que praticamente metade (48%) destes têm 75 ou mais anos, estando já na chamada quarta idade. Muitas destas pessoas vivem sozinhas, grande parte delas sem o acompanhamento necessário para garantir a qualidade de vida que se exige para pessoas de maior idade. São também, cada vez mais, aquelas que por crescente dependência, necessitam de entrar numa Estrutura Residencial para Pessoas Idosas (ERPI).
Segundo dados do Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social, existiam em 2018, em Portugal, cerca de 2700 ERPIs que, no seu conjunto, tinham a capacidade para acolher um total de mais de 100 000 idosos, um número que tem vindo, desde então, a aumentar, mas que é manifestamente reduzido. Tendo em conta a população com mais de 65 anos, esta capacidade permite acolher apenas 4,2% do total, sendo que considerando os com mais de 75 anos, a taxa de cobertura é de 8,5%.
Há, em Portugal, ERPI’s de vários tipos. Existe uma grande oferta de ERPI’s das Misericórdias, seguida das IPSS, das públicas e privadas de fins lucrativos. As ERPI’s com maior peso têm mantido praticamente inalterada a oferta nos últimos anos, assistindo-se a um crescimento da oferta privada destas instituições, nomeadamente fruto do reforço de investimento de grandes grupos nacionais e internacionais neste setor.
Com base no inquérito realizado para o Retrato das Residências Sénior em Portugal, percebe-se que, em regra, as instituições existentes estão já estabelecidas no mercado, com vários anos de atividade. Apenas 5% destas instituições foram criadas há menos de um ano, embora seja de registar que 25,6% passaram a prestar os seus serviços há mais de um ano, mas há menos de cinco anos.
Assim, é possível ver que há um reforço da capacidade, nos últimos anos, que vem acompanhado de uma melhoria na qualidade dos serviços que são oferecidos por estas instituições aos utentes. A quase generalidade das ERPI’s dispõe de instalações com jardins, espaços de convívio e para a realização de atividades, mas também se assiste a um reforço da oferta de espaços destinados à promoção da saúde dos idosos institucionalizados.
Todas as ERPI’s que participaram no inquérito revelaram que entre os seus colaboradores – mais de metade conta com até 30 colaboradores – estão enfermeiros, que têm a capacidade de prestar cuidados médicos aos idosos, sendo que a existência de um médico é uma realidade em 97,4% dos inquiridos. Mais de dois terços das Residências Sénior revela contar com um médico pelo menos uma vez por semana, 15,4% tem duas a quatro vezes por semana, enquanto 17,9% tem um profissional em permanência na instituição.
É prestada grande atenção aos cuidados fisioterapêuticos, essenciais para garantir o bem-estar físico e retardar a perda de mobilidade dos utentes. Mais de dois terços das instituições oferece serviços de fisioterapia tanto em grupo como de forma individual, assistindo-se também a um aumento da oferta de serviços profissionais para acompanhamento da saúde mental dos idosos. Das residências sénior inquiridas, 41% revela ter na sua oferta terapeutas ocupacionais, sendo que 38,5% oferece serviços de psicologia aos utentes.
Ocupação prolongada da residências sénior reduz camas
Apesar do aumento do número de ERPI’s, o setor continua sob pressão, sendo incapaz de colocar no mercado um número de camas suficientes que permitam acomodar a crescente procura. Praticamente três quartos das ERPI’s (74,4%) conta com uma oferta de até 60 camas, sendo ainda reduzido o número de instituições com capacidades mais elevadas. Apenas 12,8% das entidades inquiridas refere que tem mais de 100 camas para acolher os idosos.
Muitas das pessoas que dão entrada nestas instituições acabam por permanecer por um período compreendido, em média, entre um e cinco anos. Praticamente 7 em cada 10 (69,2%) das entidades que aceitaram participar neste inquérito revelam que o tempo de permanência médio na Residência Sénior chega aos cinco anos, com 12,8% a admitirem prazos substancialmente mais longos, que vão dos cinco aos 10 anos.
Estes tempos de permanência elevados acabam por levar a que, juntamente com o crescente aumento da esperança média de vida, apenas interrompido durante os anos da Covid-19, a oferta continue a revelar-se parca. Dois terços (66,7%) das instituições inquiridas revela que o período de ocupação integral das camas é total. 23,1% aponta para uma taxa de ocupação total de cerca de 9 meses por ano, com apenas 10,3% a indicarem que a capacidade máxima nunca é atingida.
A escassez na oferta, num contexto de pressão do lado da procura, repercute-se invariavelmente nos valores cobrados mensalmente pela permanência dos seniores nestas instituições. Os preços praticados pelas Residências Sénior são, genericamente, entre os 1000 e os 1500 euros, independentemente da tipologia, sendo tanto mais baixos os valores quanto a ocupação por quarto e vice-versa.
Os quartos duplos são uma realidade na quase totalidade (94,9%) das instituições com atividade no mercado nacional, sendo que uma importante fatia de 87,2% revela apresentar quartos individuais para acolher os idosos. Os quartos triplos são menos comuns, constando da oferta de apenas cerca de 4 em cada 10 das instituições (41%) que colaboraram com este Retrato das Residências Sénior em Portugal.
Os valores abaixo dos 1000 euros são mais raros, especialmente para utentes que optem por quartos individuais. 1 em cada 10 Residências pratica valores abaixo dos 1000 euros no caso dos quartos duplos, sendo que no caso dos triplos é possível encontrar uma cama por este valor em 2 em cada 10 instituições
Preços acima dos 2000 euros são uma realidade em quase um quarto (23%) das residências sénior no caso dos quartos individuais, proporção que diminui para 15% no caso dos quartos duplos. Apenas 5% das residências têm quartos triplos por este valor – são, genericamente, praticados valores inferiores.
Os preços são elevados, principalmente à luz do valor das pensões auferidas por muitos daqueles que necessitam deste tipo de apoio. Contudo, continuam a subir, reflexo da escassez da oferta, mas também do aumento dos custos de funcionamento destas instituições. Praticamente 3 em cada 4 instituições subiram os preços em 2023, embora aquém da inflação registada no ano passado. Mais de dois terços realizou aumentos de até 5%.
Este Retrato das Residências Sénior em Portugal foi realizado pela Via Senior e pela BA&N Research Unit, através de um inquérito online partilhado com todo o universo de Residências Sénior a operar legalmente no mercado nacional.
O universo é representado por cerca de 2500 residências sénior que, no global, são responsáveis por mais de 100 000 camas, tendo o inquérito contado com a colaboração de Residências Sénior representativas de cerca de 4000 camas. Este inquérito foi realizado ao longo de 30 dias, entre 1 de dezembro de 2022 e 1 de janeiro de 2023, sendo as respostas submetidas totalmente anónimas para que pudesse ser possível ter acesso a informação de outra forma considerada sensível pelas residências sénior.
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