ABR 20, 2021
Haroldo da Gama Torres - Estado de Minas. Confira matéria original aqui.
O esperado emprego formal parece ter se tornado um sonho cada vez mais distante frente ao nosso anêmico crescimento econômico.
No mundo contemporâneo, o empreendedorismo tem se destacado como uma possibilidade relevante de superação das condições de trabalho, especialmente em momentos de agravamento das condições sociais. E isso é ainda mais urgente nas periferias urbanas e em iniciativas voltadas para a formação de jovens. Afinal, neste momento de crise, para muitos, empreender se constitui num importante caminho para a sobrevivência.
Ainda assim, o tema da formação de empreendedores enfrenta recorrentes críticas – em especial, de que tal iniciativa limitaria a capacidade crítica dos participantes de refletirem sobre a realidade à sua volta. Embora parcialmente válido, esse argumento é superficial. Nada impede que a formação empreendedora fortaleça a reflexão dos indivíduos sobre a realidade. Ao contrário, é ao tentar incidir sobre essa realidade em termos práticos que os participantes têm mais oportunidade de refletir sobre ela.
Na verdade, acredito que a crítica desses observadores se refira a certos estilos de formação empreendedora muito limitantes. Afinal, ao discutir o tema, não precisamos falar apenas de empresas ou grandes projetos de tecnologia. É preciso falar também dos milhões de microempreendedores individuais que precisam desesperadamente aprender a gerenciar suas atividades de maneira mais eficiente. Devemos falar das ONGs, empreendimentos com objetivos sociais altamente relevantes, que se tornam bem mais complexos em face das dificuldades inerentes ao financiamento desse tipo de organização.
No fundo, é na vida social que precisamos nos inspirar para argumentar sobre a relevância que o tema merece. Segundo a PNAD do 3º trimestre de 2020 (IBGE), o Brasil contava com 36,6 milhões – ou 44,5% do total – de pessoas ocupadas em posições que podemos definir, grosso modo, como do campo do empreendedorismo. Aqui, estão incluídos todos aqueles que não são empregados com carteira assinada, funcionários públicos ou trabalhadores domésticos. Se considerarmos apenas aqueles que trabalham por conta própria, por exemplo, esse contingente soma 21,7 milhões, ou 26,4% da força de trabalho. É muita gente.
E é nas periferias das grandes cidades que o número de trabalhadores informais (e também de desempregados) é mais elevado. Assim, cabe perguntar: que tipo de oportunidade vamos oferecer a esses milhões de brasileiros?. Afinal, o esperado emprego formal parece ter se tornado um sonho cada vez mais distante frente ao nosso anêmico crescimento econômico e à forte transformação tecnológica do mundo do trabalho.
É no contexto dramático do Brasil de hoje que formar cidadãos para empreender – em uma ONG, um negócio próprio, um movimento social – faz todo o sentido.
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