SET 25, 2022
Madalena Queirós - Contacto. Confira matéria original aqui.
Querem fazer-nos acreditar que o envelhecimento é o maior inimigo das mulheres. É isso que leva mulheres de todo o mundo a gastar fortunas em cremes, tratamentos e por vezes cirurgias para atenuar os sinais da idade. E tudo isso para quê?
Dizem as más línguas que não há mulher de 50 anos, como eu, que não fique maravilhada com George Clooney no anúncio da Nespresso. Prova disso, é a máquina Nespresso que todos os dias me serve o café de manhã, enquanto sonho que o ator está sentado do outro lado da mesa.
Nada disto seria grave se este não fosse um dos milhares de anúncios que "vendem" a imagem de homens mais velhos, sensuais e bem conservados. Mas são raras as publicidades que mostram imagens de mulheres mais velhas, sensuais e bem conservadas. Porquê? O mito que os homens são como o Vinho do Porto está em voga nas sociedades ocidentais. E porque raio é que não havemos de pensar que as mulheres também são como o Vinho do Porto? Poderia citar milhares de casos delas que se revelaram depois dos 50 anos.
Apesar do seu passado ideologicamente questionável, Leni Riefenstahl, a cineasta que imortalizou o regime nazi, é um dos muitos casos. São conhecidas as imagens maravilhosas que fez do fundo do mar, revelando-se como uma hábil mergulhadora aos 80 anos. Não me imagino a mergulhar com essa idade. Temos também o caso de um dos meus ídolos ( e porque razão não temos a palavra ídola na língua portuguesa), a antropóloga Margareth Mead. As suas contribuições científicas receberam um reconhecimento especial quando aos 72 anos foi eleita presidente da American Association for the Advancement of Science.
Betty White atriz e apresentadora de televisão que se notabilizou na defesa das causas dos negros e dos direitos da comunidade LGBTQI+ é outro dos exemplos. Assim como o caso da Rainha Isabel II que poucos dias antes de morrer ainda deu posse à primeira-ministra britânica.
Mais recentemente a Forbes lançou a iniciativa "50 mais 50" (50 over 50, no original), para dar palco às mulheres que se têm distinguido depois dos 50 anos. Querem fazer-nos acreditar que o envelhecimento é o maior inimigo das mulheres.
O que leva milhões de mulheres em todo o mundo a gastar muito dinheiro em cremes, tratamentos e por vezes cirurgias para atenuar os sinais da idade. E para quê?
A verdade é que elas envelhecem melhor que eles. A explicação é simples. A autora Susan Nolen-Hoeksema não tem dúvidas que "a saúde mental das mulheres e a sua satisfação com a vida melhoram com a idade". Nelas as depressões e ansiedade diminuem à medida que os anos passam. Uma realidade comprovada por um estudo feito nos Estados Unidos que revela que os sintomas depressivos, a ansiedade e de solidão são mais baixos nas mulheres acima dos 45 anos. Para esta psicóloga este fenómeno explica-se pelas muitas forças mentais das mulheres que se vão acentuando ao longo da vida.
Também os contactos interpessoais mais fortes nas mulheres fazem com que entrem na velhice com uma sólida rede de relações fortes com pessoas em quem confiam e com as quais têm empatia. Outro estudo da psicóloga Carol Ryff revela que as mulheres mais velhas que desenvolvem a força mental "têm um melhor sistema imunitário e um colesterol mais saudável".
Com o aumento da escolarização e a crescente participação no mercado de trabalho, cresceu a capacidade das mulheres se afirmarem e terem uma vida ativa dinâmica até uma idade mais avançada, explica Susan Nolen-Hoeksema.
Elas têm também mais facilidade em enfrentar a mudança de papéis que surgem com o avançar da idade. "Quando os homens chegam aos 60 anos e se reformam afundam-se. As mulheres continuam a cozinhar", escreve Gail Sheehy.
Porque o facto das mulheres desempenharem vários papéis, profissionais, mães, cuidadoras faz com que depois de se reformarem e pararem com a atividade profissional continuem a desempenhar muitas outras tarefas. Mas de forma geral, não tenho dúvidas, que as mulheres envelhecem melhor que os homens.
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