MAI 11, 2022
Daniela Maciel - Diário do Comercio. Confira matéria original aqui.
Empresas que ainda não se atentaram quanto a isso vão sofrer pressão de algum lado ou todos ao mesmo tempo
Uma pesquisa da Infojobs revelou que 70% dos profissionais com mais de 40 anos já sofreram preconceito por causa da idade | Crédito: Amatra1
Etarismo, idadismo, ageísmo ou simplesmente preconceito de idade – especialmente contra os mais velhos – dentro das empresas. Os nomes são muitos e a prática tão antiga como limitadora de resultados. Realizada no ano passado, uma pesquisa do Infojobs, feita com 4.588 profissionais, revelou que 70% dos profissionais com mais de 40 anos já sofreram preconceito por causa de sua idade.
Além disso, 78% dos pesquisados disseram que o mercado não oferece as mesmas oportunidades para quem está acima dos 40, em comparação com os mais jovens e, para 61%, o principal desafio profissional é não encontrar empresas que deem chances para que os mais velhos mostrem seu potencial. Além de competência e um perfil mais maduro, capaz – via de regra – de lidar com mais calma com momentos de crise – as empresas perdem principalmente em diversidade e, por mais estranho que pareça para muitas delas – em inovação. Em um ambiente de negócios onde as diferenças são respeitadas, a tendência é que existam menos conflitos e maior envolvimento dos funcionários. Uma pesquisa da Harvard Business revela que os conflitos são reduzidos em 50% em comparação com organizações que não investem na diversidade. Enquanto as pautas da inclusão feminina e étnica, por exemplo, seguem crescendo dentro das empresas – em que pese a sua máxima urgência -, a questão geracional permanece em segundo plano. A maior parte das empresas com políticas de diversidade não cuida das questões geracionais, daí a necessidade de requalificar os profissionais mais velhos, acima de 40, 50 e 60 anos, salvo algumas raras e louváveis exceções.
O “Guia Cidade Amiga do Idoso”, publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), tem a sua décima seção dedicada à “Participação cívica e emprego”. Segundo o documento: “os idosos não param de contribuir para a sua comunidade quando se aposentam. Muitos continuam a trabalhar, gratuita e voluntariamente, para as suas famílias e comunidades.
Em algumas regiões, circunstâncias econômicas forçam os idosos a trabalhar de maneira remunerada muito depois da hora de eles se aposentarem. Uma comunidade amiga dos idosos lhes dá opções para que eles continuem a contribuir para a sua comunidade, seja por meio de trabalho remunerado ou voluntário, se eles assim preferirem, e de eles se engajarem no processo político”. No Brasil – o “País do futuro” – a situação ganha contornos próprios, indo além do fenômeno que já atravessa boa parte do planeta: o envelhecimento da população. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que os jovens entre 15 e 29 anos correspondem a 23% da população brasileira, somando mais de 47 milhões de pessoas. Dados de 2019, revelam que o número de pessoas com mais de 60 anos no País já é superior ao de crianças com até 9 anos de idade.
Os 7,5 milhões de novos idosos que o Brasil ganhou entre 2012 e 2019 representam um aumento de 29,5% neste grupo etário. Corroborando com essas estimativas, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que a população do Brasil vai ‘envelhecer’ de forma constante e acelerada nos próximos anos. O levantamento, divulgado em outubro do ano passado, aponta que 40,3% dos brasileiros serão idosos daqui a aproximadamente 90 anos. E o número de pessoas com menos de 15 anos deve cair de 24,7% para 9%.
A Let’s Code, edtech que ajuda grandes empresas a formar desenvolvedores para o mundo real, tem atuado em programas exclusivos para esse público com grandes empresas como Iguatemi e Magalu, por exemplo. Em 2021, a startup desenvolveu, respectivamente, o Iguatemi 50+ e o Desenvolve 40+, que contou com mais de 40 mil inscritos nestas faixas etárias, e ajudou a capacitar esses profissionais para atuar no mercado de tecnologia, um dos que mais cresce no Brasil.
Para o CMO da Let’s Code, Gabriel Göltl, no campo da tecnologia a desigualdade é flagrante em diversos grupos como de gênero, idade, orientação sexual, étnico, entre outros. A edtech trabalha com diferentes recortes, de acordo com a necessidade e desejo do cliente.
“Quando a gente fala de inclusão dos mais idosos na área da tecnologia, isso é muito importante. O que vemos muito são pessoas que tiveram carreiras que estão em extinção como do setor bancário e comercial, por exemplo. Do lado das empresas, elas querem fazer essa mistura de perfis”, explica Göltl.
Göltl: algumas empresas querem fazer essa mistura de perfis | Crédito: Divulgação
No ranking das “Tendências de gestão de pessoas”, divulgado anualmente pelo Great Place To Work (GPTW), embora já frequentasse a pauta estratégica antes da Covid-19, somente 12,2% dos entrevistados responderam que a empresa em que atuam tem maturidade no tema “diversidade e inclusão” e contribui, de fato, para uma equidade de gênero, racial, geracional, do público LGBTQI+Q e outras minorias.
Segundo a pesquisa, o grupo que recebe menos atenção é o de pessoas 50 +, revelando o chamado etarismo. Esse dado fica ainda mais evidente quando somado a avaliação dos dados da pesquisa do GPTW que dá origem ao ranking das Melhores Empresas para Trabalhar no Brasil: apesar de 93% das empresas contarem com alguém responsável por combater a discriminação e promover a diversidade, o menor avanço do tema está no geracional: apenas 3% a 4 % da força de trabalho está no 55 + e 12% entre 45 a 55 anos. “Sobre diversidade e inclusão devemos reconhecer ganhos históricos, mas ainda é pouco. Estamos mais estruturados para a pauta de gênero do que para as demais. O relatório mostra que diversidade está entre as prioridades, mas nunca tem força geral. Existem as empresas que estão levando a sério e as que apenas surfam a onda”, avalia a diretora de Conteúdo e Relações Institucionais do GPTW, Daniela Diniz.
Daniela Diniz: pauta diversidade e inclusão já obteve ganhos | Crédito: Marcelo Spatafora
Em Belo Horizonte, a Sólides, HRTech especializada no segmento das pequenas e médias empresas (PMEs), o processo de mudança de cultura começa dentro da própria empresa. Segundo a CEO da Sólides, Mônica Hauk, como uma empresa de base tecnológica é natural que a média de idade seja baixa, porém a busca pela diversidade – inclusive etária – precisa ser pensada como estratégia de negócio.
“Temos como estratégia de gestão de pessoas aumentar a média idade da Sólides. Há quatro anos a média era de 23 anos, agora já chegamos a 31. Era uma média realmente muito baixa. Agora começamos a fazer esse direcionamento para trazer pessoas mais velhas e temos metas de subir mais. É óbvio que quando falamos em 31 anos ainda é uma média baixa, mas queremos trazer pessoas mais experientes e maduras. Na minha visão, do ponto de vista estratégico para resultados da empresa, é uma questão muito necessária porque efetivamente agrega valor ao negócio. Transferir o conhecimento de uma geração para a outra é muito rico”, pondera Mônica Hauck.
As empresas que já estão atentas ao etarismo, grosso modo, podem ser divididas em três grandes grupos. As que estão em fase inicial e sabem que por uma questão de imagem, precisam entender e se engajar nas pautas socioambientais; as que já sabem que diversidade é uma questão de negócio e pode alavancar resultados; e as mais maduras, que entendem e divulgam a ideia de que as empresas têm um papel social que vai além dos seus produtos, serviços e comunidades primárias com as quais se relacionam e que devem agir para a melhoria da qualidade de vida das pessoas como um todo.
“As empresas que ainda não fazem nada a respeito vão sofrer pressão de algum lado, seja pelos consumidores, pelos investidores, outros parceiros ou todos ao mesmo tempo, provavelmente. Existe um efeito em cadeia: a maioria das empresas chega aqui porque viu outra fazendo, seja uma concorrente ou uma parceira. Isso leva as médias empresas a olhar e fazer alguma coisa na medida do seu tamanho, fazendo com que os resultados se multipliquem”, destaca o CMO da Let’s Code.
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