NOV 05, 2021
Maria Goldenberg - VOGUE. Confira matéria original aqui.
Meryl Streep e Tommy Lee Jones em Hope Springs (Foto: Divulgação)
A antropóloga e colunista da Vogue Mirian Goldenberg conta as conclusões das suas pesquisas sobre as diferentes maneiras com que homens e mulheres encaram o envelhecer
O que significa envelhecer em uma cultura na qual existe uma extrema valorização da juventude? Na minha pesquisa atual sobre envelhecimento e felicidade, as mulheres demonstram ter mais medo do envelhecimento do que os homens. Entre os meus pesquisados de 40 até 59 anos, 38% das mulheres e 25% dos homens disseram que têm medo de envelhecer. É curioso observar, contudo, que o temor diminui com o correr da idade. Após os 60 anos, apenas 19% das mulheres e 10% dos homens afirmaram que temem ficar mais velhos. Alguns medos são os mesmos para homens e mulheres: doenças, limitações físicas, dar trabalho aos filhos e outros familiares, perder a memória, solidão, abandono, desrespeito, falta de dinheiro e morte. Só os homens, no entanto, mencionaram o temor da aposentadoria, da dependência e da impotência, além do receio de ficarem inúteis, deprimidos e chatos. Já as mulheres falaram mais sobre a apreensão da invisibilidade social e da decadência do corpo. Quando perguntei “Você toma algum cuidado para envelhecer bem?”, apenas nas respostas femininas apareceram afirmações sobre ir regularmente aos médicos, fazer anualmente os exames médicos ou usar filtro solar e creme hidratante. As mulheres demonstram medo de envelhecer em função das transformações do corpo: rugas, cabelos brancos, facilidade para engordar, flacidez, celulites, estrias, menopausa. Nas respostas das participantes com mais de 60 anos, esse tipo de preocupação diminui bastante.
Quando perguntei “Você deixaria de usar algo porque envelheceu?”, a diferença de gênero foi marcante. Enquanto 91% dos homens disseram que não mudariam nada com o envelhecer, 96% das mulheres responderam que modificariam muitas coisas. Elas enfatizaram que não poderiam mais usar minissaia e também shorts, biquínis, roupas justas e decotadas ou acessórios exagerados. É importante perceber que a minissaia, que foi um símbolo da libertação feminina nos anos 1960, foi o item mais citado como considerado proibido para as mulheres mais velhas. A aposentadoria da peça e de outros modelos de roupas considerados jovens revela um controle social muito maior sobre o corpo e o envelhecimento feminino do que sobre o masculino. Quando perguntei “Quem envelhece melhor: o homem ou a mulher?”, em todas as faixas etárias, e ambos os sexos concordaram, que os homens envelhecem muito melhor do que as mulheres. Elas disseram que eles ficam mais interessantes quando mais velhos, que os cabelos brancos os tornam ainda mais charmosos e que os homens maduros são mais atraentes.
Apenas um conjunto de mulheres discordou dessa afirmação. Em um único grupo apareceu a ideia de que elas envelhecem bem melhor do que os homens. Essa turma específica acredita que eles são mais dependentes, têm mais problemas de saúde, morrem mais cedo, bebem mais, comem mal, são sedentários, ficam deprimidos depois da aposentadoria, têm menos amigos, não sabem aproveitar o tempo livre e não gostam de sair, viajar e dançar.
O grupo de opinião oposta acredita também que, inclusive na aparência física, as mulheres envelhecem muito melhor. Como eles não vão aos médicos, não fazem exames periodicamente e não se previnem de doenças – e também não fazem uso de recursos e tratamentos dermatológicos –, a saúde, o corpo e a pele deles ficariam piores com a idade. As mulheres, como sempre se cuidaram mais e fazem acompanhamento médico com regularidade, além de se tornarem mais saudáveis, teriam uma aparência mais jovem e bonita do que os homens da mesma faixa etária. Mas, afinal, que grupo seria esse que se diferencia de todos os demais? Foi surpreendente descobrir que apenas as mulheres de mais de 50 anos acreditam que os homens envelhecem pior. Justamente aquelas que estão preocupadas com o próprio envelhecer, com a invisibilidade social e com a decadência do corpo, negam a crença que sempre alimentaram: a de que o envelhecimento masculino é melhor do que o feminino. As mulheres que pesquisei constatam que, na prática, estão mais bonitas, cuidadas e saudáveis do que eles. Além disso, elas afirmam que estão mais felizes, independentes e aproveitando muito melhor as vantagens da maturidade do que os homens.
Como mostro no meu livro A Invenção de uma Bela Velhice, em uma cultura na qual o corpo jovem é um importante capital, a maturidade pode ser vivenciada como um momento de grandes perdas. No entanto, para as mulheres que valorizam outros recursos, como a saúde, a liberdade e a amizade, o envelhecimento pode ser vivido como um momento de inúmeros ganhos, realizações, conquistas, descobertas, cuidados e adaptação às mudanças inevitáveis das diferentes fases da vida.
Quero terminar com uma espécie de mantra que escuto das mulheres maduras que tenho pesquisado nas últimas décadas: “É a primeira vez que eu posso ser eu mesma. Nunca fui tão livre, nunca fui tão feliz. É o melhor momento de toda a minha vida”. Por que, então, tantas mulheres alimentam a ideia de que o homem envelhece melhor, desvalorizando e prestando muito mais atenção ao envelhecimento da aparência feminina do que da masculina?
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