ABR 12, 2021
Ana Rita Guerra - Dinheiro Vivo. Confira matéria original aqui.
A YOV, com sede em Los Angeles, patenteou uma tecnologia que arquiva a personalidade de uma pessoa e permite recriar interações em mensagens, voz e vídeo.
Apágina principal do site da YOV, uma startup muito recente que foi criada em Los Angeles, tem um vídeo promocional a correr que mostra pessoas de luto num funeral. "A um certo ponto, todos temos de dizer adeus", lê-se em pano de fundo. Mas a tristeza e as lágrimas são subitamente substituídas por sorrisos quando os utilizadores recebem chamadas de entes queridos que já morreram. "E se não tivéssemos de o fazer?" A pergunta é tão intemporal como a ideia subjacente: existe alguma maneira de imortalizar aqueles que amamos? Esta startup, cujo nome é um acrónimo de "You, Only Virtual", acredita que sim.
A YOV foi criada por Justin Harrison depois de, em 2019, ter sofrido um acidente de mota e se ter deparado com o cancro terminal da sua mãe. Harrison, um psicólogo clínico, queria uma forma de continuar a replicar as interações que tinha com a mãe após a sua morte e concebeu uma tecnologia para o fazer. É uma técnica pioneira, a primeira empresa a fornecer um serviço que recolhe e arquiva a personalidade de uma pessoa com base nas suas interações emocionais e sentimentais.
A forma como isto funciona é fascinante. A aplicação estará brevemente em fase beta e apenas por convite, com 10 mil utilizadores a testarem a primeira versão durante seis meses. Descarregando a aplicação, os utilizadores poderão começar a arquivar as suas "personas" virtuais a partir das conversas que vão tendo com amigos e familiares num "círculo YOV". A plataforma recorre a aprendizagem de máquina e análise de personalidade para construir esta "persona" e todos os elementos do círculo têm de dar permissão para o efeito.
Na eventualidade de um deles morrer, os outros membros do círculo podem continuar a interagir com ele através da sua "persona" virtual, de uma forma que recria as nuances da sua personalidade e forma de falar. Estas comunicações poderão ser feitas através de mensagens de texto, voz ou IA na primeira fase; depois, a YOV pretende adicionar comunicações 3D em vídeo com funcionalidades de realidade aumentada e realidade virtual. A ideia é que seja possível receber mensagens, chamadas ou vídeo-chamadas de alguém que já morreu e ter conversas novas com a "persona" virtual dessa pessoa.
O serviço será pago mensalmente, sendo que os utilizadores iniciais - no "Clube dos Fundadores" - terão um preço permanente de um dólares por mês.
"Está disponível em todo o mundo", disse ao Dinheiro Vivo Anita Lane, que está a fazer a comunicação da startup. "Estamos a convidar utilizadores a inscreverem-se na fase beta neste momento."
A startup acredita que é pioneira num mercado que irá eventualmente explodir. Com o aperfeiçoamento das ferramentas de inteligência artificial e realidade aumentada, será cada vez mais fácil construir um perfil completo de uma pessoa e treinar os algoritmos para imitar a sua personalidade. O fundador Justin Harrison diz que se trata de uma "oportunidade sem precedentes" e que, dentro de alguns anos, este tipo de comunicação será comum.
Reconhecendo que esta proposta é estranha, à primeira vista, a YOV lembra que há milhões de pessoas neste momento a manter amizades com companheiros virtuais, a fazerem sessões com terapeutas artificiais e até a partilharem o seu espaço com robôs que parecem humanos. Tudo isto baseado em Inteligência Artificial, que melhora continuamente a partir de cada interação.
A YOV nem sequer precisa de criar uma personalidade robótica: só tem de recriar a de uma pessoa que existiu mesmo. A sua tecnologia proprietária conseguiu uma patente em março.
"A nossa plataforma é a única a ser desenvolvida neste espaço que reconhece que a minha comunicação com a minha mulher é muito diferente da comunicação com o meu irmão", explica Harrison. "O que torna a YOV autêntica é que não estamos a construir uma persona virtual, estamos a construir muitas personas diferentes - com base em interações íntimas e de grupo da vida real dentro de cada círculo YOV de cinco pessoas."
O que a tecnologia não faz é construir estas personas de forma póstuma, por exemplo apenas a partir de mensagens em redes sociais. O sistema precisa de ir recolhendo interações personalizadas durante algum tempo para reconstruir a personalidade de cada um, usando o contexto e a complexidade dos relacionamentos inter-pessoais para o efeito.
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