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Startups maduras: ambiente de inovação conquista profissionais com mais de 60 anos

ABR 30, 2022

Redação - Primeiro Jornal. Confira matéria original aqui.


Meu ‘pitch’ no curso começava mais ou menos assim: ‘Maria Isabel, o que você, nesta idade, está fazendo aqui?” O pitch de uma startup é uma apresentação de, no máximo, cinco minutos, usada para despertar o interesse de investidores no negócio.


Foi com esse questionamento que a fundadora da plataforma Inventividade (@projeto.inventividade), Maria Isabel de Carvalho, 65 anos, conquistou o terceiro lugar no Acelera Mais Criativo, programa promovido pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e Rede+, no mesmo ano que começou a startup, em 2020.


“Eu gosto quando ocorre o estranhamento com a minha presença porque vejo como uma abertura e oportunidade de desconstruir o estereótipo de que a pessoa idosa é inativa, fonte de problemas e custos. O Inventividade é uma iniciativa coletiva e digital que oferece atividades educativas e culturais para pessoas interessadas no processo de envelhecimento e em ressignificar o olhar da sociedade sobre o idoso”, afirma Maria Isabel.


E no 1º de maio, Dia Mundial do Trabalho, pensar fora da caixa em um ecossistema que favorece a diversidade é um dos principais atrativos para o interesse dos profissionais com mais de 60 anos nesse ambiente.


Prestes a completar dois anos, além de promover eventos online e de manter o site, redes sociais e canal no Youtube, a plataforma Inventividade traz conteúdos que ajudam os idosos a se relacionarem melhor com a tecnologia, seja para enviar um arquivo, fazer uma foto de qualidade no celular ou com dicas de segurança sobre golpes na internet e fake news.


“Nossa inovação é fazermos isto com o público acima de 55 anos, sendo protagonista e criando conexões intergeracionais. Estamos vivendo a Revolução da Longevidade e a geração que hoje está com a idade de 60 anos ou mais é a mesma que revolucionou, nos meados do século passado, vários setores, e que vivenciou a escalada de transformações tecnológicas ocorridas nos últimos 45 anos”, comenta. Buscando sempre evoluir, Maria Isabel não para.


De acordo com o analista do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-BA), Tauan Sousa, se a startup é sinônimo de inovação, o negócio precisa apostar no diverso. Em 2022, a previsão do Sebrae é impulsionar ao menos 250 startups baianas. “É justamente essa abertura e receptividade que a inovação proporciona que tem conquistado o 60+, ainda muito discriminado pelo mundo do trabalho tradicional” (leia mais sobre desemprego de idosos no mercado formal abaixo).


Os setores mais propícios para esse público empreender, geralmente, são segmentos em que, de alguma maneira, atendem a demandas da própria faixa etária.


“Enxergamos aí um potencial muito grande no segmento de serviços, turismo e soluções atreladas a conhecimento, cultura. São empreendedores que tendem a buscar esses nichos porque são conhecedores das reais necessidades dos idosos”, analisa Sousa.

Visibilidade Administradora por formação, antes de se aposentar, Maria Isabel exerceu vários cargos de gestão no setor público e até então só tinha ouvido falar de startup de forma muito superficial. Na pandemia, as oportunidades de troca de informações aumentaram e foi aí que surgiu a ideia de criar a plataforma Inventividade.


“Ampliei minha visão. O que mais me interessou foi a forma não hierarquizada de trabalho, o estilo enxuto. A valorização do conhecimento, a experimentação, o reconhecimento das pessoas pela contribuição que agregam. Para a maioria das pessoas de minha geração, penso que é algo novo e motivador, em termos de realidade organizacional”.

Segundo a Associação Brasileira de Startups (Abstartups), atualmente, entre fundadores com mais de 46 anos, os negócios sob gestão dessa faixa etária são HealthTech e Life Science (saúde e ciência/ 11%), Edtech (educação/ 10,4%) e Fintechs (produtos e serviços financeiros/ 9,1%).


Apesar da entidade não ter dados consolidados da movimentação financeira das startups, o Brasil tem mais de 20 mil empresas neste modelo. Na Bahia, são 84 negócios mapeados pela Abstartups.


O diretor executivo da associação, Luiz Othero, destaca que existe um espaço imenso para os idosos conquistarem dentro do ecossistema. Ainda com base no levantamento, mais de 60% das startups brasileiras não possuem pessoas com mais de 60 anos no seu quadro de colaboradores.


“O aumento da visibilidade e o crescimento de investimento no ecossistema das startups incentiva que pessoas com 60 anos ou mais se aventurem no empreendedorismo. Com a reversão da pirâmide etária, este é um público com grande potencial para os próximos anos. Sem dúvida, o ecossistema inteiro tem muito a ganhar com as ideias desse grupo”, explica Othero.


Boas soluções têm cada vez mais chances de encontrar investidores interessados, como complementa Othero: “A ideia de que idosos não entendem de tecnologia está muito ligada ao senso comum e não necessariamente reflete a realidade. Hoje há um olhar muito mais apurado para a valorização do potencial de trabalho dessa faixa etária. Seja pela discussão sobre diversidade ou enquanto target (público-alvo), que mais negócios podem se abrir para agregar 60+ aos seus times”.


Mente aberta A Casas Phi Projetos Habitacionais Inteligentes (@casasphi) é outro exemplo de startup baiana em que a maturidade dos sócios fez a diferença.


Em operação há três anos, o sistema de fabricação de casas industrializadas, que podem ser montadas e desmontadas em qualquer lugar, já oferece 13 modelos de habitação, desde um home office até uma casa de três quartos com suíte. Sócio da Phi e também diretor comercial, Marcos Cintra, 65 anos, afirma que apostar em tecnologia foi uma decisão de mentes inquietas e que queriam se manter ativas.


“Somos três sócios com idade de 65 anos ou mais. Sempre fui muito criativo, futurista e então encontrei mais duas mentes inquietas que também buscavam se manter produtivos e tinham esse propósito de solucionar problemas de Engenharia e a Arquitetura, nossas áreas de atuação”, conta Cintra.

A tecnologia da Phi permite que uma casa pronta seja entregue em, no máximo, 60 dias. E tudo isso pode ser feito de forma online: o sistema de venda é totalmente digital, no qual o cliente projeta sua casa pela internet e, inclusive, pode montá-la sozinho.


“A mente – bem mais ágil e afiada pela experiência acumulada – não tem idade. É atemporal. O mundo de hoje impulsiona os idosos a permanecer antenados com as questões sociais, econômicas e humanitárias, o que nos leva a apresentar inovações em busca de maior praticidade, economia, aumento de produtividade e uso de tecnologia”, reforça Cintra.


Incubadoras e Aceleradoras como a do Senai Cimatec vêem esse perfil de empreendedor com bons olhos, conforme ressalta o gerente executivo, Flavio Marinho.


Nos últimos dois anos, a Acelera Cimatec acelerou mais de 30 startups, apoiou mais de 55 projetos empreendedores e avaliou mais de 300 iniciativas de startups que apresentaram propostas de incubação, aceleração e conexão com grandes empresas. A Casas Phi, inclusive, contou com o suporte da instituição do desenvolvimento da tecnologia do seu produto.


“Temos alguns casos que tem se mostrado com excelente potencial. A presença de empreendedores mais maduros é um movimento que tem acontecido no mundo todo, inclusive, por conta desse amadurecimento do ecossistema. São pessoas que trazem a experiência de já terem passado por outros negócios e atividades profissionais, o que para um processo como esse é muito relevante”, diz Marinho.

CEO do Grupo Rede+, Rodrigo Paolilo defende que todo negócio com energia para transformar é bem-vindo ao ecossistema. O Rede+ oferece mentoria e consultoria no segmento de Inovação Corporativa e Aceleração.


“A vivência conta muito. Saber o que pode dar certo, a maturidade de lidar com problema, com a equipe, as situações do dia a dia: é isso que os profissionais maduros trazem para as startups. É muito bom ver essa diversidade”, reforça Paolilo.


Conexões Para o psicólogo Mateus Soares, especialista em Gerontologia e professor da UniFTC, a integração da pessoa idosa ao mundo digital tem a ver com sentimento de pertencimento e autonomia.


“A interação entre gerações, a possibilidade de aprender coisas novas e utilizar isso ao seu favor, é extremamente benéfico. Significa melhora na autoestima e na sua motivação para estar mais integrado àquilo que lhe interessa e pode ser acessado via um meio digital”, comenta.


É justamente essa a motivação do CEO da startup AICerv (@aicervoficial), Aviel Dafna, 62 anos. Ele desenvolveu o Beverator, equipamento de autosserviço que dispensa o garçom e permite que o cliente customize sua própria cerveja da quantidade ao tamanho ao colarinho, via aplicativo.


“Somos uma equipe de oito pessoas, que somadas as idades temos mais de 150 anos de experiência no que fazemos. A vivência dos empreendedores de mais idade acaba se equilibrando com a sede de conhecimento dos jovens, o que forma um time mais forte e empenhado”.

Quando o fundador e CEO da Loja Circular Sustentável Leve (@lojaleve.com_), André Sales, 58 anos, decidiu sair do emprego e empreender após 36 anos de carreira na área executiva, enxergou no modelo de startup a chance do negócio crescer com mais rapidez. Foi aí que a ideia de loja colaborativa física migrou para o digital.


“Em 2020 fui aprovado no programa de mentoria e aceleração do Founder Institute. Daí fui só agregando conhecimento. Consegui um desenvolvedor para entrar no time e estamos rodando a plataforma, já com muitas funcionalidades. É importante se ‘infiltrar’ no ecossistema. Daí você vai conhecer muita gente boa, sabendo o que está fazendo e podendo te ajudar e você ajudando de volta”.


A Leve é uma loja Circular Sustentável, que estimula o prolongamento do uso das roupas através da venda e doação com a criação de uma loja personalizada. “Você monta sua loja, cadastra seus produtos e pronto: pode vender ou doar os looks, recebendo o dinheiro ou direcionando para uma instituição de acolhimento. Temos ainda o sistema de indicação, no qual o nosso parceiro pode indicar um novo parceiro e ganhar um percentual de todas as suas vendas durante dois anos”.


A experiência rendeu a André um convite para ser mentor de uma startup que visa a eliminação do resíduo do isopor e sua reintrodução no início da cadeia produtiva.


“Esta troca é fantástica. Os mais jovens estão vendo que os mais experientes trazem uma melhor visão de processos e de gestão, o que é reforçado pelo modelo de startups que se utilizam muito da presença de mentores e conselheiros nas empresas”, ressalta.

Lacunas Para o líder de Comunidade do Hub Salvador, Enzo Alves, o caminho do empreendedor de uma startup começa com a oportunidade de melhorar algo. “A bagagem do 60+ traz contribuições tanto para novas ideias, como para ajudar esses negócios mais jovens a ter uma gestão mais madura. Toda a questão de criar junto, pensando na perspectiva do colaborador, também traz um senso de pertencimento muito grande”.

Enzo Alves ressalta que a consolidação e expansão do ecossistema de startups no presente vem para trazer mais opções de empreendedorismo e de mercado de trabalho. No Hub Salvador são 33 startups residentes.


“Vejo mais oportunidades de uma forma bem real e direta. Startups têm mostrado que com uma boa ideia, com uma boa equipe e bastante esforço, conseguimos fazer aquilo que gostamos e ganhar dinheiro com isso”.

E os idosos podem e devem utilizar as conexões que fizeram ao longo da sua carreira para encontrar possíveis sócios e parceiros de negócio. “A variedade de perfis ajuda a ser resiliente. As comunidades de um ecossistema de startups são colaborativas e diversificadas, estamos todos buscando o sucesso dos nossos projetos e ajudar uns aos outros é uma das formas de alcançarmos esse objetivo”, completa.


DESEMPREGO NO MERCADO FORMAL ATINGE MAIS DE 300 MIL IDOSOS NO BRASIL

A falta de emprego no mercado de trabalho formal para pessoas com 60 anos ou mais já atinge 311 mil pessoas em todo país. Segundo dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no 4º trimestre de 2021, a taxa de desocupação no Brasil dessa faixa etária era de 4,4%.


Os números mostram o quanto está difícil para os mais velhos se manterem empregados. Na Bahia, a situação é ainda mais grave. No 1º trimestre de 2020 eram 37 mil pessoas – com taxa de desocupação de 8,7%, mais que o dobro da nacional. Com base nas estimativas do Censo 2010, esse número representa a população de Águas Claras (37.029) ou da Federação (36.362) – bairros da capital baiana. Seria também o dobro da população do Candeal (13.553) e praticamente sete vezes a população dos dois bairros mais envelhecidos de Salvador naquele ano: Canela (5.339) e Vitória (5.225).


Há dois anos, o IBGE deixou de ter informações detalhadas por idade para os estados durante o período mais intenso da pandemia, devido às dificuldades em realizar as entrevistas por telefone, por isso, esse é o número regional mais atual.


Para o professor da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (FGV-EBAPE), Joaquim Rubens Fontes Filho, é muito difícil para um profissional 60+ se colocar no mercado de trabalho hoje. O pesquisador pontua que deveria ser o contrário – diante do avanço das discussões sobre o processo de melhoria proporcionado pela diversidade dentro das empresas.


“Atualmente, o que vemos é a contratação de uma pessoa mais velha, talvez, dentro de uma cota, um programa específico, uma assistência social, quando essa maior propriedade da diversidade dentro das empresas deveria trazer também pessoas de mais idade”, comenta.

Existe aí uma questão não só econômica, mas social, como acrescenta Filho: “A oferta de oportunidades para essa faixa etária ainda é muito frágil, tem pouco espaço no mercado de trabalho tradicional. E se a gente fala de diversidade, isso é importante, principalmente, em um cenário em que a longevidade vem aumentando, as pessoas vivendo mais, trabalhando mais e ainda totalmente produtivas”.


POR DENTRO DA LINGUAGEM DAS STARTUPS

1. Startups São empresas que nascem com a proposta de um produto ou serviço diferente e inovador, que quase sempre têm a tecnologia na base da sua operação. Apresenta uma estrutura enxuta, o que torna o negócio flexível e grande potencial para crescer com velocidade.


2. Ecossistema É o ambiente formado por todas as empresas e órgãos que contribuem para as startups avançarem. Universidades, comunidades, governo e investidores, por exemplo.


3. HealthTechs e Life Sciences São startups que desenvolvem tecnologias para o mercado de saúde e impulsionam a inovação no campo da ciência e da biotecnologia. Uma das healthTechs mais conhecidas é a plataforma de atendimento médico remoto, Dr. Consulta.


4. Edtechs São negócios que buscam soluções na área de educação, incorporando ferramentas digitais aos métodos de aprendizagem. Plataformas que ofertam aulas online como o Descomplica, são edtechs.


5. Fintechs

São startups com produtos voltados para serviços financeiros totalmente digitais. Uma das fintechs mais conhecidas do Brasil é o Nubank.


6.Pitch É uma apresentação de, no máximo, cinco minutos, usada para despertar o interesse de investidores no negócio.


7. Gaps São as tecnologias que podem ser melhoradas no negócio, produto, serviço e processo.


8. Mentores São consultores, empreendedores de startups com mais experiência e investidores que dão conselhos ao negócio e também o conectam com sua rede.


9. Investidor-anjo É quem investe em projetos com potencial para crescer rápido. Em troca, ele recebe uma participação minoritária na empresa.


10. Incubadora O principal objetivo de uma incubadora é oferecer todo suporte necessário a um startup em suas etapas iniciais.


11. Aceleradora Já nesse caso, a aceleradora é uma organização que coloca o negócio contato com grandes organizações e investidores, a fim agilizar seu crescimento.


COMO EMPREENDER

Tenha uma boa ideia que possa resolver uma situação real do mundo.


Produto Mínimo Viável (MVP) Valide essa ideia, entenda se ela tem algum tipo de aderência no mercado, se faz mesmo sentido.


Se integre ao ambiente das startups. Participe de eventos, busque mentorias e conexões com outros empreendedores que já fazem parte da cadeia.


Pesquise, busque exemplos e outros negócios naquele segmento para entender se aquilo deu certo ou não, e por qual motivo isso aconteceu.


Não tenha medo. As comunidades de um ecossistema de startups são colaborativas. Todos querem buscar o sucesso dos negócios e ajudar uns aos outros.


CONHEÇA O ECOSSISTEMA

Incubadoras Áity Incubadora, Comunidade Virtuais, Escritório Bahia Criativa, IHACLab-i, In.Pacto, Senai Cimatec, Uneb, Unifacs


Aceleradoras Acelera Cimatec, GetIN, HUB de Inovação do Banco do Nordeste, Rede+, Rocket, Vale do Dendê.


Parque Tecnológico da Bahia O parque promove a integração de empresas, universidades, institutos de ciência, tecnologia e inovação e pesquisa e poder público. Para ser um residente é preciso participar do processo seletivo que acontece durante o ano. O próximo está previsto para ser lançado no final do mês de maio. Mais informações no site parquetecnologico-ba.org.br/seja-um-residente/.


Programas de Mentoria Acelere[se], Baanko Challenge Salvador, Conecta Startups, Founders Institute Salvador, Scale Up Bahia (Sebrae), Sebraelab Habitat, Senai Cimatec, Vale do Dendê.


Rede de Investimento Anjos do Brasil Bahia, BossaNova, Desenbahia, Banco do Nordeste, Fapesb, Criatec, Inseed, LightHouse.


Espaço de trabalho e Network A Casa Coworking, Alvo, Colabore, Hub Salvador, Hub de Inovação do Banco do Nordeste, Parque Tecnológico, Ponte, Rede+, Sebraelab, Senai Cimatec


Fonte: Mapeamento de Atores em Salvador/ Abstartups

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