OUT 01, 2022
Célio Ribeiro - Inset. Confira matéria original aqui.
Mesmo oferecendo experiência e credibilidade, profissionais mais velhos enfrentam obstáculos no mercado de trabalho. Empresas vão precisar combater o etarismo nos próximos anos e incentivar o recrutamento desses trabalhadores
“Você ainda vai precisar de mim [...] quando eu tiver 64?”. A frase, repetida algumas vezes na música “When I’m Sixty-Four”, dos Beatles, traz a visão que muitas pessoas daquela época tinham sobre as pessoas idosas: falta de utilidade, dependência de terceiros, “fardo” para os outros e por aí vai. E este sábado (1°), Dia Nacional do Idoso e Internacional da Terceira Idade, é um ótimo dia para perceber que o mundo mudou e a sociedade passou a entender que os mais velhos são parte ativa e atuante da nossa comunidade. E essa parte ativa e atuante deve ficar ainda mais ativa e atuante nos próximos anos. Um estudo da ONU (Organização das Nações Unidas) revelou que o Brasil terá mais de 66 milhões de idosos em 2050, ou seja, quase 30% da população. Já os dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua mostram que o número de trabalhadores com 60 anos ou mais já cresceu mais de 27% entre 2015 e 2022 e chegou a 7 milhões. A inversão da pirâmide etária e, por consequência, o crescimento da população potencialmente ativa com 60 anos ou mais, já entrou no radar de muitas empresas, que veem nos profissionais mais experientes uma fonte de colaboradores decisivos. Como você já leu aqui no Inset, a busca por profissionais mais velhos cresceu quase 166% nos nove primeiros meses de 2021. Cristián Sepúlveda Lazzaro, CEO da Silver Hub, aceleradora de startups focadas na população 50+, destaca que a experiência e a prudência deste grupo são diferenciais no mercado de trabalho. “Os 60+ são bastantes mais reflexivos e menos impulsivos na tomada de decisões, comparados, por exemplo, com os millennials. O trabalhador maduro tem mais capacidade de pensamento crítico e são considerados mais tolerantes, estáveis, responsáveis e fiéis à empresa. Os anos também ajudam na capacidade de liderança, colaboração e relacionamento. Obviamente não podemos generalizar para todos os casos.”
Dados da PNAD Contínua revelam crescimento dos profissionais +60 no mercado de trabalho (Foto: Michelle Freitas/Inset)
Além da experiência, o publicitário Carlos Alberto Gallo destaca que os colaboradores mais velhos possuem mais conhecimento e credibilidade. Gallo criou, em 2019, o Homens de Prata, uma plataforma que conecta homens e mulheres com 50 anos ou mais e apresenta casos reais que auxiliam esse público na transição para a maturidade. Publicitário há 43 anos, Gallo não pensa em parar tão cedo. "Ainda não pensei em me aposentar e não pretendo, pelo menos, pelos próximos três anos. O que motiva a continuar trabalhando é a capacidade de ser produtivo, de dividir, de aprender e de ser feliz com o que eu faço." Envelhecimento e etarismo Ao mesmo tempo em que a população potencialmente ativa fica mais velha, muito tem se falado sobre preconceito com a idade dos profissionais. Muitas são as "justificativas" dadas por empresas ao dispensar ou recusar um funcionário mais velho: algumas alegam que a experiência traz, na verdade, "vícios adquiridos"; já outras apenas pensam em evitar os salários mais altos dos profissionais sêniores. Em alguns casos, o etarismo dá as caras na entrevista de emprego. As medidas para mudar esse quadro já começaram a ser adotadas. Algumas empresas investem em cursos de conscientização para seus colaboradores e lideranças. Outras fazem questão de reservar parte das novas vagas para profissionais mais velhos, como o Grupo Ri Happy, que deu prioridade a esse grupo na hora de contratar funcionários temporários para o Dia das Crianças. Além da Silver Hub, outra empresa que também desenvolve um trabalho específico para a população mais velha é a Maturi. A plataforma reúne oportunidades de trabalho, desenvolvimento pessoal, capacitação profissional, empreendedorismo e networking focados em pessoas maduras e experientes. O CEO da Maturi, Morris Litvak, faz sugestões para combater o etarismo no ambiente de trabalho. "Como combater o etarismo? Educando as empresas, começando pelos líderes, capacitando e atualizando a população madura, e criando políticas públicas de educação sobre o tema e incentivo à manutenção das pessoas mais velhas no mercado de trabalho." Já o CEO da Silver Hub, Cristián Sepúlveda Lazzaro, diz ter observado certas mudanças no ambiente empresarial nos últimos anos. Segundo ele, as discussões sobre o tema entre recrutadores já é um início, mas o caminho é longo. "Como toda mudança social, vai requerer tempo. Uma das formas para combater o etarismo é disseminando informações pertinentes sobre o tema, como artigos que desmitificam a relação dificultosa entre maduros e tecnologia. Além disso, é muito importante é incentivar o recrutamento de candidatos acima de 50 anos e criar estratégias para evitar conflitos de gerações dentro da empresa. As companhias devem investir em políticas claras para eliminar o etarismo dentro das organizações."
"A FGV estima que, em 2040, metade da força de trabalho no Brasil já terá mais de 50 anos, portanto é urgente um olhar atento a este tema por toda a sociedade. Temos percebido um aumento do interesse das empresas sobre este tema, mas ainda há um longo caminho pela frente até que tenhamos uma cultura que valorize e seja inclusiva aos mais velhos. Mas quem não olhar para isso, ficará para trás." Morris Litvak, CEO da Maturi
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