MAI 10, 2022
Magali Moraes - GZH. Confira matéria original aqui.
Alguns lidam melhor com o envelhecer, mas as mulheres sofrem mais pela pressão envolvida
Com que idade a gente fica velha? Dizem que o corpo humano começa a envelhecer a partir do momento em que se nasce. Mal comparando (e sendo bem racional), é como um carro 0km, que já desvaloriza assim que sai da revenda. Pesquisadores mais otimistas afirmam que o organismo inicia o processo de envelhecimento aos 20-30 anos. Desesperador? Injusto? Quando a gente se dá conta, a coisa está rolando há muito tempo. E você com medo dos 40, 50, 60.
Pra que se iludir? Seria menos estressante aceitar o fato e se preparar com antecedência. Pena que a sociedade insiste em cobrar a juventude eterna. Se é um processo fisiológico pelo qual todos nós passamos, não ter essa vivência significa sair de cena precocemente (o que não é uma boa opção). Alguns lidam melhor com o envelhecer, mas as mulheres sofrem mais pela pressão envolvida. Pensei duas vezes se colocava “velhas” lá no título. Que o choque da palavra sirva pra ativar o colágeno.
Rugas adoram jogar na nossa cara a passagem do tempo. Marcas de expressão que vincam a pele são resultado de infinitos sorrisos, preocupações, boas e más experiências – basicamente o viver. Vem incluído no kit as paralelas na testa, o bigode chinês, as linhas de marionete (boca de ventríloquo), o código de barras ao redor da boca. Saudade de quando a gente só esperava os pés de galinha. Ah, se fosse apenas o rosto a revelar a quilometragem alta. Tem o pescoço plissado (inventei essa), manchas nas mãos, pele soltando do osso, dores nas juntas.
Reformulando a pergunta inicial: com que idade a gente realmente fica velha? A idade do corpo ou da mente? Aí que o jogo vira. O emocional é tão poderoso quanto o condicionamento físico. Precisa de mais leveza, bom humor e menos paranoia pra transitar nessa fase da vida. Lembrando que jovens de alma idosa existem aos montes. Se sentir bem na própria pele (enrugada ou não) é uma baita vantagem competitiva.
Já é notícia antiga que a população brasileira está envelhecendo. Sem tempo pra etarismo, gente. Podemos ser velhas e lindas, livres, sábias, gostosas, produtivas, orgulhosas da nossa trajetória. Com ou sem botox. De cabelo branco ou pintado. Buscar o que nos faz bem, começar projetos desafiadores, usar a roupa e a make que quisermos. Amar na idade que for. Ter vida social intensa ou preferir o sossego. Assumir que não temos mais paciência pra gente chata e escolher quem merece a nossa companhia (virou mantra, Manu).
Se foi tranquilo pro Brad Pitt dizer que ele está velho e não aguenta mais gravações à noite (o vídeo circula na internet), pra cantora Adele deve ter sido libertador falar que ela não quer fazer hits pro TikTok. Que prefere criar músicas pra quem é da sua geração, “pessoas que estão no meu nível em termos da quantidade de anos que passamos na terra e as coisas que passamos”. Acho justo.
*Texto publicado em ZH no espaço do colunista David Coimbra, que está em licença médica.
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