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Portugal, um país para envelhecer?

OUT 06, 2022

Maria Tereza Gomes - Época. Confira matéria original aqui.


Em ranking elaborado pela Natixis Investment Managers, que considera fatores como saúde, bem-estar econômico, renda e qualidade de vida em 44 países, Portugal aparece em 28º lugar


Ruas de Lisboa, Portugal (Foto: Agliberto Lima)


Que o Brasil é um dos piores países do mundo para envelhecer, nem precisa fazer pesquisa, a gente já sabe. Mas o que me surpreendeu recentemente é que Portugal não está entre os 10 melhores - é apenas o 28º no ranking elaborado pela Natixix Investment Managers, administradora de recursos com sede em Paris e Boston, que considera fatores como saúde, bem-estar econômico, renda e qualidade de vida em 44 países (o Brasil é o 43º, à frente apenas da Índia). “Portugal não tem estratégia, só agora começa a falar de envelhecimento, a colocar longevidade na agenda”, diz a socióloga portuguesa Ana João Sepulveda, 53 anos, dona da consultoria 40+Lab e presidente da associação Aging Friendly Portugal.


Divulgado em meados de setembro, os dados da Natixix não surpreenderam Ana João. “Cerca de 23% da população portuguesa têm mais de 60/65 anos; destes, 17% são pessoas pobres, que vivem no limiar ou abaixo do limiar da pobreza”, me disse durante uma entrevista remota. Segundo ela, quando comparado aos países nórdicos (Noruega, Suíça e Islândia são os mais bem pontuados), Portugal não está gerenciando corretamente os últimos anos de vida de seus cidadãos. “Os nórdicos vivem de forma autônoma e independente mais tempo que os portugueses.”


Esse é o tipo de dado que, segundo ela, influencia a posição de seu país no ranking, mas não tem influenciado na decisão de muitos estrangeiros de viverem lá seus últimos anos de vida. O Relatório de Imigração, Fronteiras e Asilo (RIFA), elaborado anualmente pelo governo português, mostra que a população estrangeira naquele país vem crescendo desde 2016 e chegou a quase 700 mil pessoas no ano passado. Os brasileiros lideram (3 em cada 10), seguidos pelos britânicos (6%), cabo-verdenses (4,9%), italianos (4,4%) e indianos (4,3%). Segundo o documento, há um crescimento sustentado de cidadãos da União Europeia, o que comprovaria “a percepção de Portugal como país seguro, bem como as vantagens fiscais decorrentes do regime para o residente não habitual”.


“Portugal tem atraído famílias jovens, mas também pessoas com mais de 50, 60 anos”, diz Ana João. O RIFA confirma: os imigrantes com mais de 50 representam um quarto do total, embora a maioria ainda esteja no grupo etário 25-44 anos (46%). “Portugal tem um excelente clima, uma sociedade estável, segura e aberta aos outros; somos integradores desde a época dos Descobrimentos; e somos uma sociedade tecnológica, com quase 100% do território coberto por wi-fi.” Tudo isso tem atraído pessoas de centenas de nacionalidades - surpreendentemente, também chineses, que já são 3,3%. O bairro que Ana João mora, Arroios, em Lisboa, tem moradores de 98 nacionalidades. Segundo pesquisa da revista Time Out, Arroios é o “bairro mais cool do mundo”. Parece que Portugal também está caminhando para ser o país, se não o mais cool, pelo menos o mais multicultural do mundo.


*Maria Tereza Gomes é jornalista, mestre em administração de empresas, CEO da Jabuticaba Conteúdo e mediadora do podcast “Mulheres de 50”

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